O sexo dos bispos
Começa a tornar-se insuportável a vaga de escândalos que varre a Igreja Católica tendo o sexo por motivo. Abusos sexuais sobre crianças, violações de menores que, ao longo de décadas, foram escondidas, mitigadas, iludidas pela hierarquia eclesiástica. A última revelação vem da Alemanha, números da própria Igreja, que apontam para milhares de crianças vítimas de pedofilia por sacerdotes, bispos e outras funções correlativas. Ainda há pouco tempo, o Papa ouviu na Irlanda um mar de protestos. Para não falar do Chile, dos Estados Unidos e de outros países onde a acção criminosa e, sublinho, o encobrimento da hierarquia, tem mantido predadores sexuais na maior impunidade.
Não é de hoje este assunto. Vários Papas tiveram de pedir desculpa pelos desmandos do seu rebanho de pedófilos. Porém, o Papa Francisco, talvez o espírito mais aberto que nos últimos cinquenta anos liderou o Vaticano, está a ser causticado por esta história de horrores impunes, obrigando-o a abordar o assunto directamente. Não creio que a sua militância anti-pedófilos tenha qualquer valor preventivo. Na verdade, a sucessão de escândalos, de nojo e de indignação, confronta a Igreja com o seu maior tabu: o sexo. Uma resistência à compreensão do mundo que se torna desesperante para os crentes que respeitam a memória mas já vivem no séc. XXI. Hoje, quando o matrimónio mais laico do que sacralizados, que o divórcio é um instrumento jurídico vulgar, onde acasalar já não significa casar, nem tão pouco a união de pessoas de sexo diferente. Hoje, quando a pílula auto -determinou o futuro da Humanidade, a demografia, o acasalamento sem medos. Hoje, quando os direitos de homossexuais, de transexuais, estão constitucionalmente resguardados, deixou de fazer sentido há muito tempo os dois maiores preconceitos eclesiais: o juramento de inibição sexual e a interditação de mulheres à carreira eclesiástica.
A SUCESSÃO DE ESCÂNDALOS CONFRONTA A IGREJA
COM O SEU
MAIOR TABU: O SEXO