Humanos abaixo de galo
Marca pontos Fernando Medina quando empunha a bandeira do preço dos passes. Medina falou de Lisboa, no que é válido para todo o País. Em Portugal, quem precisa de se deslocar para trabalhar deixa muitas vezes mais de um quinto do salário nos cofres das transportadoras. Neste canto da Europa, economia campeã do salário mínimo, com todos os jovens e o trabalhadores menos qualificados condenados aos 585 euros, é urgente um olhar keynessiano - ou cristão, ou humanista, ou marxista - sobre a atividade dos transportes.
Levar pessoas no pêndulo diário, casa-trabalho, não pode ser visto como uma atividade que possa gerar lucro na mera relação com os pobres utentes. Que, ainda por cima, sofrem tratos de polé, com menos regras a defender a sua dignidade e espaço vital do que galinhas em trânsito no espaço europeu.
De manhã e no final do dia,
centenas de milhares de pessoas, na Grande Lisboa e Porto, são torturadas em trajetos longos, de pé, aos solavancos, entaladas umas nas outras. E, para obteremesse lugar vital, pagam mais de cem euros por mês. Esta condenação à infelicidade é tambémumincentivo àbusca do desemprego protegido. Sofre de cegueira anacrónica e desumana a atual política de transportes.
Post-scriptum: A viagem de António Costa a Angola será breve mas histórica. Costa aterra num país em profunda mudança. Finalmente a passar para um estágio já próximo da democracia plena, com liberdade de expressão e separação de poderes. Os empresários portugueses devemolhar para Angola não como um poço de petróleo mas como uma fonte de oportunidades. A economia angolana precisa de diversificar as áreas de atividade. Agricultura, floresta e pescas devem merecer a atenção portuguesa na competição global de que Angola é parte.
SOFRE DE CEGUEIRA ANACRÓNICA A ATUAL POLÍTICA DE TRANSPORTES