Correio da Manhã Weekend

AS ESCOLHAS DE

- POR MARIA FILOMENA MÓNICA TÍTULO A ARTE DE SER FELIZ AUTOR ARTHUR SCHOPENHAU­ER EDITORA PADRÕES CULTURAIS

MARIA FILOMENA MÓNICA

A felicidade depende do que cada um espera da vida. Hoje,

queremos tudo a cada momento. Ora, isto é impossível

O que me irrita nestas modas é o seu dogmatismo “Ogovernode­NovaDelhi decidiuimp­oràsescola­s públicasai­nclusãodeu­ma disciplina­cujoobjeti­voé ensinarosa­lunosaserf­elizes”

Andopreocu­padacomoes­tadode espírito de Humanidade. Os meus contemporâ­neos vivem hoje melhor do que há cem anos, mas há qualquer coisa no ar que os faz sentir infelizes. Aumtal ponto que depois de se ter descoberto que, na Índia, 1 emcada 4 jovens (entre os 13 e os 15 anos) sofria de depressão, o governo de Nova Delhi decidiu impor às escolas públicas a inclusão, nos seus programas, de uma disciplina cujo objetivo é ensinar os alunos a ser felizes. Não se pense que isto existe apenas na Índia. A Ocidente, está em voga um método semelhante, conhecido como ‘mindfullne­ss’, baseado nameditaçã­o. Segundo os seus adeptos, quem o pratique conseguirá combater a tristeza que se estaria a multiplica­r nas sociedades ricas. O que me irrita nestas modas é o seu dogmatismo. Por mais de uma vez me deparei com jovens que julgava inteligent­es e que, de umdiaparao outro, me aparecemco­mumsorriso aparvalhad­o e uma total incapacida­de para manter umdiálogo racional.

A felicidade depende, em grande medida, do que cada um espera da vida. Um aldeão do século XVII apenas desejava não passar fome. Portanto, quando ao fim do dia a mulher lhe punha diante do nariz uma sopa e um copo de vinho sentia-se feliz. Só com o advento da Civilizaçã­o Moderna as aspirações se alteraram: hoje, queremos tudo e tudo a cada momento. Ora, isto é impossível.

O reconhecim­ento deste facto le- vou-me à obra póstuma do filósofo alemão A. Schopenhau­er ‘L’Art d’Être Heureux à Travers 50 Règles de Vie’ (Ed. du Seuil, 2001), um livro imperdível. Veja-se, por exemplo, a regra nº 24, em que o autor defende que, durante a segunda metade da vida, a inquietaçã­o perante a desgraça se instala na nossa alma, substituin­do a aspiração insatisfei­ta dos primeiros anos. Para este filósofo, “a maneira mais segura de uma pessoa não se sentir miserável consiste em não esperar ser feliz”. Fiquei tão entusiasma­da com esta posição, que acabo de comprar um tapete para o rato do meu computador com uma frase sua: “A vida move-se, como um pêndulo, oscilando entre a dor e o tédio”. Fiquei logo mais consolada.

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