POPULAÇÃO DENUNCIA CORRUPÇÃO
APOIO r Graziela, 71 anos, invisual, diz que “aqui não há compadres nem comadres” e, por isso, a casa ficou por acabar SUSPEITA r Funcionário da Câmara de Pedrógão terá alterado a morada fiscal para beneficiar de reconstrução de 2ª habitação
Graziela Domingues, cega e com 71 anos, não consegue sequer subir ao andar superior da casa, onde está a cozinha, porque o corrimão é interrompido a meio do corredor. Assim, só pode utilizar a casa de banho exterior, recuperada pelos filhos.
A casa, destruída pelos incêndios do ano passado em Pedrógão Grande, continua por concluir. As obras, pagas pela Cáritas, arrancaram há cerca de nove meses. “Aqui não há compadres nem comadres e, por isso, eles fazem o que querem. Sinto uma grande re- volta por deixarem-me assim enquanto fazem segundas e terceiras habitações”, lamenta a idosa, que reside com o marido, Albino, em Vale da Nogueira, Pedrógão Grande.
“Ficou tudo destruído com o fogo, só restaram as paredes. Mais valia ter morrido e não passar por estes tormentos ”, lamenta. Um filho e neto, que viviam com o casal, ainda não puderam regressar a casa, por falta de condições. “Só recentemente é que o quarto ficou arranjado. Passo algum tempo sozinha e o que me vale é este pauzinho para me guiar”, confessa ao nosso jornal a mulher que perdeu a visão na sequência de uma intervenção cirúrgica realizada há quinze anos.
O Ministério Público está a in- vestigar as alegadas irregularidades no processo de reconstrução das habitações ardidas. Em Vila Facaia, o caso de Bruno Martins, funcionário da Câma- ra de Pedrógão Grande, é um dos que levanta suspeitas. O jovem terá alterado a morada fiscal para beneficiar da reconstrução de uma habitação, a 40 metros da casa onde vive com os pais. Alega que sempre ali viveu, mas os vizinhos desmentem-no. “Viveu lá em criança mas há mais de dez anos que vive do outro lado da rua”, garante Deonilde Feteira.
As obras rondaram os 99 mil euros, mais IVA. Já a mãe de Bruno Martins garante que o filho já vivia naquela casa antes de 17 de junho de 2017. “Eu apresentei os papéis que me pediram. Mais nada”.
MULHER NÃO CONSEGUE
ACEDER À COZINHA, NO PISO SUPERIOR DA CASA