Correio da Manhã Weekend

Uma Cantata à Janela

-

Nã o sereia primeira, e nem a última, a gostar de boa vizinhança. Faz bem à saúde do prédio tais ventos. Tivemos sorte. Edasgrande­s. Saiu uma encalhada mal-amada e zangada, com a mania que era concorrent­e do milho, para entrar uma joia italiana. A janela que está em frente da minha mostra esse novo Sol em Mi. Alto sem chegar ao tecto, membros superiores e inferiores comomanda o figurino, nãoé musculado, nãoé, masposs ui o músculo principal no devido lugar. É um pouco tímido no patamar da entrada, no elevador, o una mercearia onde compra abacates e bananas. A timidez desanda quando o encontramo­s a ver televisão comum a curta camisa branca aberta e desprovido de boxers. Não leva as mãos ao instrument­o superior e até parece que não lhe dá atenção. Contudo, a natureza, que não está nada morta, vai crescendo a olhos vistos. Não sei se o filme que assiste és anta ajuda para tamanha subida. Não sei. Se o voo só for causado pelo pen samento, caramba, senhores, viva a filosofia. Nunca reparei que olhasse para quem olha para ele. Talvez faça de propósito. Talvez goste que um punho de vizinhas fique babando por ai. Eu não me babo, embora esteja lá perto. A senhora do quinto andar, embora a paisagem lhe seja dificultad­a por galhos de árvore, conseguem ara vilhar-se. Os estores japoneses desceram para assim se manterem enquanto o comandante estiver fora de casa. Não fico com os olhos em bico, mas fico ansiosa que o homem, o meu, chegue. Estivemos de costas viradas durante uns tempos, é verdade, a rotina é uma maldição na vida de qualquer casal. O inquilino romanote ve melhor repercussã­o do que uma caixa inteira de remédios azuis. O comandante não imagina a fonte da minha inspiração. Pensa que o amor voltou. O amor não volta porque nunca se foi embora. O quer egressouéo nervosismo agudo. Uma espécie de rapidinha mental.

clavedesol­vidas@hotmail.com

 ??  ??
 ??  ??

Newspapers in Portuguese

Newspapers from Portugal