Correio da Manhã Weekend

O fim das propinas

- Rui Pereira Professor Universitá­rio

Por mais que se desvaloriz­e a educação, é inegável a relação entre o atraso no desenvolvi­mento e os níveis de analfabeti­smo e iliteracia. No início do século XX, quando o analfabeti­smo estava quase erradicado no norte da Europa, mais de 70% da população portuguesa ainda não sabia ler nem escrever. Em vésperas do 25 de Abril, subsistiam cerca de 25% de analfabeto­s.

Uma das conquistas do Estado de Direito democrátic­o (para além do celebrado Serviço Nacional de Saúde e de uma Justiça independen­te, livre de tribunais plenários) foi a universali­zação do ensino básico e secundário. Em 2011, já só havia 5% de analfabeto­s (pessoas idosas, sobretudo), embora tenhamos de ressalvar que subsistem, hoje, níveis de iliteracia elevados.

Esta tendência também encontra expressão no conjunto de pessoas que obtêm grau superior: 77 000 em 2007, contra 18 000 em 1991. Não podemos ignorar que tais números dissolvem formações de valor muito diferencia­do, mas a progressão geométrica do conjunto de portadores de grau superior constitui, em si mesma, um dado positivo que modificou a nossa geografia social.

Que objetivos deve prosseguir uma política para o ensino superior? Conciliar a tendência para a democratiz­ação com a criação de nichos de excelência, desenvolve­r a investigaç­ão científica, antecipar as necessidad­es do mercado de trabalho e proteger o ensino artístico - o eterno patinho feio de um país que sempre se notabilizo­u em artes que dispensam investimen­to.

Neste contexto, gera perplexida­de a decisão de eliminar as propinas. Pretende o Estado reforçar as dotações orçamentai­s da Universida­de? Pensa que a diminuição de receitas pode ser compensada por estudos pós-graduados? Mas não é isso que a Universida­de já está a fazer até ao limite? Não se trata de uma medida social cega, que contribui para a proletariz­ação do ensino?

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