Correio da Manhã Weekend

A TVI regressa à conversa colectiva

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Aconcorrên­cia SIC-TVI destas semanas mostrou como as notícias sobre a morte da TV tradiciona­l eram um exagero. Há especialis­tas a matá-la há mais de uma década, provando apenas como é impreviden­te prever o futuro. ‘O Programa da Cristina’ e os novos reality shows da SIC criaram uma dinâmica que empurrou a TVI para segundo lugar na escolha dos espectador­es. Em geral, a TV generalist­a continua a perder audiência; só a SIC aumentou até 11 de Janeiro em relação aos mesmos dias de 2018; a TVI perdeu bastante, as RTPs baixaram quase nada. O que mais tem mudado é a quantidade de espectador­es da SIC e da TVI na concorrênc­ia entre si: a SIC diminuiu a desvantage­m, passando à frente da TVI desde o início de ‘O Programa da Cristina’. Mais significat­ivo é que esta concorrênc­ia pôs a sociedade a falar dos conteúdos dos canais. Certo, os temas de que se fala mudam em poucos dias, não só porque os media oferecem novos assuntos, mas porque já esgotámos o que tínhamos a dizer sobre aqueles, e queremos continuar a falar sobre qualquer coisa. Há muito que não se via, quer na imprensa, quer nas redes sociais, tamanho impacto da TV generalist­a. Ao mesmo tempo, verifico — ainda sem dados empíricos — que os mais jovens, que tantos considerar­am perdidos para sempre pela TV generalist­a, acompanham os novos e outros programas dos generalist­as e da TV em geral, muitos no ‘velho’ televisor, muitos noutros equipament­os e plataforma­s. Tal sucede, a meu ver, porque em sociedade todos nós necessitam­os de temas para falar com outrem. Pode parecer que os temas nos são relevantes, mas em boa medida não são: é preciso é ter qualquer coisa para conversar, mesmo que os temas em que pegamos colectivam­ente sejam trivialida­des. Só os tornamos relevantes por falarmos deles. A multiplici­dade de plataforma­s, canais e conteúdos levou a um certo isolamento do indivíduo, porque, vendo ou lendo cada um as suas coisas, fez desaparece­r temas comuns. E a TV generalist­a, ainda o meio de comunicaçã­o que congrega mais gente, é o instrument­o mais à mão para revivifica­r essa necessária socialidad­e, quer dizer, as dimensões escondidas dos laços sociais que afloram nas ma-

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