Correio da Manhã Weekend

O drone do deserto

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Sinto-me como aqueles convidados que um dia vão jantar a um palácio e deparam com o fidalgo bêbedo a urinar contra uma mesa Luís XIV: embora eu nem sequer seja monárquico, dou por mim a ir à cozinha ver se há uma esfregona e detergente para limpar aquilo. E só não lavo com sabão a aristocrát­ica boca do imbecil porque, enfim, ele não disse asneiras. Só as fez.

Montenegro pareceu esta semana um drone, daqueles que não servem para nada senão obrigar milhares de pessoas a ficar em terra. E, pensando que tinha um exército enorme como o de Dário, o rei persa que tentou pisar os gregos nossos antepassad­os, avançou.

Analisar o PSD ‘por dentro’ já me custa um bocadito, pois dificilmen­te votarei no partido. Seria bem mais fácil (e honesto) comentar de fora: apontar as calinadas, as contradiçõ­es, as hipocrisia­s. Defender a direção do PSD de um ataque interno é ainda mais constrange­dor.

Sei também que, ao defender a atual direção, lanço suspeição sobre ela. A regra tem a sua razão de ser: ‘Se um adversário nos elogia é porque estamos a fazer algo errado’.

Por isso, esclareço que detesto imensa coisa em Rui Rio: a fantochada do ‘Estudei no Colégio Alemão’, a presunção, a visão algo pacóvia da cultura e, já agora, o penteado.

Reconheço-lhe também algumas qualidades: é desempenad­o, frontal e, se não mostra grande visão do futuro, tem uma coisa igualmente importante: uma noção pragmática do que é viver em sociedade.

E acho a sua estratégia para chegar ao poder a mais certa. Rio está a provar que talvez consiga atravessar o deserto (de ideias, de vitórias, até 2022) com algum ímpeto. E até Hugo Soares, que também espreita, sabe isso. Mas se de repente o PSD virasse radical, ora com populismos à direita, ora travestind­o-se em ‘defensor do operariado’, deixaria de ser o que é: o partido que mais tempo foi governo no regime democrátic­o.

Já Montenegro preconiza um partido disposto a tudo (mas mesmo a tudo, como num filme porno) para voltar ao poder. Capaz de, como o rei Dário, fazer política de terra queimada. Do quanto pior melhor. Da guerrilha brutal nas redes sociais. Do ataque incessante. Do atear fogos, espero que só como metáfora, mas não ponho as mãos no fogo.

Ao querer fazer de Rio camelo, Montenegro portou-se como um drone.

MONTENEGRO PARECEU ESTA SEMANA

UM DRONE, DAQUELES QUE NÃO SERVEM

PARA NADA RIO ESTÁ A PROVAR

QUE TALVEZ

CONSIGA ATRAVESSAR

O DESERTO COM ALGUM ÍMPETO

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