As lições de vida que Nuno nos dará
Há dias, na cerimónia da entrega dos Globe Soccer Awards, que consagraram Cristiano Ronaldo como o jogador do ano, o empresário Jorge Mendes disse que era fundamental que o futebol, através das suas instituições, atletas e outros agentes, que tanto ganham à custa da grande indústria, deveria ser mais solidário. Mendes (que teve algum pudor em falar dele próprio) citou Ronaldo como um exemplo de quem presta apoio e é generoso nessa ajuda e tocou num ponto sensível: não poderá o futebol dos milhões ser mais solidário do que é. Pode e deve. E pode inspirar-se em muitos exemplos mais modestos como prova Nuno Pinto, futebolista que interrompeu a carreira por lhe ter sido diagnosticado um linfoma. Não o conheço pessoalmente, apenas o tenho avaliado por aquilo que faz no campo, sendo que tem representado o V. Setúbal nos últimos quatro anos. Dediquei-lhe curtas linhas a manifestar solidariedade pelo seu infortúnio, mas devo-lhe também o reconhecimento pela grandeza de um gesto que teve e que foi contado no Record. Alertado por imagens televisivas de um casal octogenário a assistir, ao frio e à chuva, a um jogo do Vitória, Nuno Pinto, em pleno combate contra a doença que o afeta, fez questão de ir bater à porta de Fernando e Fátima e oferecer-lhes bilhetes até final da época para lugares na bancada coberta do Bonfim. “O que fiz não foi nada do outro mundo”, disse o jogador. Mas foi. Acredito que Nuno Pinto, que esta semana iniciou os tratamentos no IPO de Lisboa, irá continuar a dar-nos lições de vida. Só lhe podemos estar gratos. Eu estou.
COMO PODE O FUTEBOL SER MAIS
SOLIDÁRIO