VITOR PEREIRA
“NÃO QUERO SAIR EMPURRADO DE LADO NENHUM”
GRATIDÃO r Técnico campeão chinês diz que a formação do FC Porto foi o laboratório que lhe permitiu evoluir para um modelo de jogo ganhador DECISÃO r Vítor Pereira saiu do
Dragão porque entendeu já ter pago a dívida de gratidão que tinha com o clube
Sport - Foi campeão da Liga chinesa. E agora? Vítor Pereira -
Correio
Volto para a China no final do mês e vou preparar a Supertaça. Depois dos testes médicos, a equipa vai estagiar durante três semanas no Dubai. Gostava de dizer que o objetivo da equipa para a próxima época é ganhar títulos... mas é muito difícil. Claro que queremos ganhar, mas a recente regulamentação feita pelo estado veio complicar tudo. Nos próximos três anos, os orçamentos têm de baixar para metade. Como o Shanghai SIPG é um clube ligado a uma empresa relacionada com o governo, tem de dar o exemplo e ser dos primeiros a cumprir. Por outro lado, vejo os outros a reforçarem-se, mas vamos tentar fazer o melhor possível. -Este título foi uma ‘pedrada no charco’?
-Foi, de facto. O Guangzhou é um ‘monstro’, que se estruturou para ganhar e que venceu os sete campeonatos anteriores. Tem chineses na seleção, tem estrangeiros de qualidade e tem a capacidade de investir em qualquer altura. Por exemplo, em julho, tiveram 75 milhões para comprar o Talisca ao Benfica e o Paulinho ao Barcelona. O Shanghai SIPG nunca tinha sido campeão, foi criado em 2011 e lutámos contra clubes com grande história na China. -Qual foi o segredo do sucesso?
- Essencialmente, a regularidade. Entrámos no campeonato muito fortes e conseguimos sete vitórias consecutivas. Mas depois pagámos a fatura do esforço de jogar de quatro em quatro dias com viagens muito longas pelo meio. Isso custou-nos a eliminação da Liga dos Campeões e da Taça. No entanto, depois dessa fase menos boa, tivemos a oportunidade de descansar e voltar ao mesmo nível. Por isso, fizemos uma segunda volta novamente muito forte, nomeadamente nos jogos entre candidatos ao título. Fomos, por isso, justos vencedores. -A sua carreira foi feita de trás para a frente?
-Comecei por tirar o curso de educação física, vertente de futebol, e tive a sorte de apanhar o professor Vítor Frade, que em termos de ideias e de metodologia já estava muito avançado. Fui futebolista na terceira divisão mas sempre tive o ‘bichinho’ de querer ser treinador. Comecei a treinar
clubes das divisões secundárias até que fui chamado para a formação do FC Porto, que foi o meu laboratório. Foi no FC Porto que experimentei tudo, várias dinâmicas, trabalhei com os melhores e sempre a ganhar. Essa fase marcou a minha carreira.
- Como é que marcou?
- Porque no FC Porto trabalha-se sempre para ganhar e para ser campeão. Formei-me a lutar por campeonatos e evolui, em termos de ideia de jogo, de modelo, a jogar para ser campeão. Não é por acaso que o meu modelo assenta em posse de bola e domínio de jogo.
- Até que chegou à equipa principal do FC Porto... - Estive oito anos no FC Porto. Quando passei pela formação fui sempre um treinador de sucesso. Quando saí para o Santa Clara, as pessoas sempre me disseram que um dia iria voltar. Ora, esse regresso acabou por ser antecipado para integrar a equipa do André Villas-Boas. Quando o André saiu, e me convidou para ir com ele para o Chelsea, o FC Porto convidou-me para ser o treinador principal. A minha dívida de gratidão era com o clube e aceitei. - Estava preparado para assumir um clube grande?
- Em termos de trabalho de campo estava preparado para aquilo que era treinar um grande e discutir o título. Em termos de comunicação... não estava. E não estava porque nunca me preocupei com a comunicação social. Paguei a fatura mas o FC Porto também atravessava um momento difícil por causa dos jogadores que queriam sair e tive de lidar com isso durante meses. - Acabou por ser bicampeão no FC Porto...
- Ganhámos a Supertaça logo de início. A época foi muito difícil, precisamente por causa da saída de jogadores, mas lutámos até ao fim. Na época
seguinte, outra vez vários galos para o mesmo poleiro. Ponto a ponto, acabámos por ter aquela vitória no final com o golo do Kelvin. Fala-se em sorte, eu falo em consistência. Se tivéssemos cedido durante o campeonato, o golo já não valia de nada. Acabou por ser o Benfica a ceder e a não aguentar a pressão.
- Porque saiu do FC Porto?
- Todos temos um período de validade e saí do FC Porto porque quis. Já me tinha desgastado o suficiente e não quero sair empurrado de lado nenhum. Achei que tinha dado ao clube o que o clube me tinha dado a mim e saí .
“SAÍ DO FC PORTO PORQUE QUIS, TODOS TEMOS UM PRAZO DE VALIDADE E NÃO QUERO SAIR EMPURRADO DE LADO NENHUM”
“ACEITEI SER TREINADOR DO FC PORTO PORQUE TINHA UMA DÍVIDA
DE GRATIDÃO”
“FOMOS BICAMPEÕES DE UMA FORMA QUE FICARÁ PARA
A ETERNIDADE E QUEM LÁ ESTAVA NUNCA VAI ESQUECER”
“O VAR TIROU
A MAGIA
E A EMOÇÃO DO FESTEJO DO GOLO... QUANDO SE MARCA FICA-SE
À ESPERA DA VALIDAÇÃO DO VAR E JÁ NÃO É A MESMA COISA”
“O SHANGHAI SIPG FOI CAMPEÃO
CONTRA ‘MONSTROS’ COM HISTÓRIA NO FUTEBOL CHINÊS E COM CAPACIDADE DE INVESTIR QUANDO
QUISEREM”
“A FORMAÇÃO DO FC PORTO
FOI O MEU LABORATÓRIO,
PUDE EXPERIMENTAR
TUDO, A TRABALHAR COM OS MELHORES E SEMPRE A GANHAR”