Direito ou Dever (II)
Na passada semana discutimos, aqui, o problema da abstenção nas eleições para o parlamento europeu. Tendo em conta a surpresa quanto à indiferença dos cidadãos, recorde-se que em cada dez eleitores votaram três, às declarações políticas daquela noite onde por unanimidade se mostrava preocupação com o sucedido, a verdade é que a coisa passou à história. Apenas se ouviu uma proposta de Rui Rio e, mesmo esta foi um pontapé ao lado da baliza, ao enunciar a possível elasticidade da representação parlamentar em função dos votos nulos e brancos. Ora, a questão não se resolve. Quem vota compromete-se e expressa-se. Mesmo que seja com uma manifestação de indiferença (voto branco), seja como um protesto (voto nulo).
Este não é o problema que está em cima da mesa. Os mapas eleitorais revelam esta dominância da abstenção. Domínio tal, que fica a incómoda sensação de que a democracia, e a necessária participação cívica e política que lhe dá corpo, é qualquer coi
sa anémica, sem força, sem o merecimento que era suposto acolher. É esta a questão: Como se refaz o laço participativo que faz comungar o direito de votar com o dever de votar? As vozes partidárias conformaram-se com as suas vitórias e derrotas, com os seus eurodeputados, alegremente indiferentes à discussão deste problema em que todos foram vencidos. E já que a classe política não quer saber, que, ao menos, outros não esqueçam. A abstenção é o caldo perigoso onde crescem os sonhos de qualquer ditadura ou de um regime prepotente. Temos o modelo eleitoral que nasceu com a democracia. Descuidaram-se outras formas de participar. O sistema não se adaptou, sempre pesado e inerte, à era do telemóvel, da internet, das redes sociais. Se o poder quisesse, o voto estava à distância de um mero clique. Nem o eleitor precisava de sair de casa. Ou votava na tal praia através do telemóvel. É uma impossibilidade? Não, não é. Apenas não existe vontade política para reforçar o sistema e valores democráticos.
O SISTEMA NÃO SE ADAPTOU, SEMPRE PESADO E INERTE,
À ERA DO TELEMÓVEL,
DA INTERNET