Correio da Manhã Weekend

Flávia Alessandra “SOU FELIZ A FAZER O QUE MAIS AMO E ISSO NÃO TEM PREÇO”

AOS 45 ANOS, A ATRIZ BRASILEIRA, ESTRELA DA GLOBO, MOSTRA-SE ORGULHOSA PELA CARREIRA QUE CONSTRUIU E ACREDITA QUE A PERSONAGEM NA NOVELA ‘SÉTIMO GUARDIÃO’ AJUDOU A QUEBRAR ALGUNS TABUS ENTRE CASAIS

-

“EU AMO PORTUGAL. RECEBO MUITO CARINHO DO POVO PORTUGUÊS. É A MINHA

SEGUNDA TERRA”

Está de visita a Portugal. Como estão a correr estes dias?

Eu amo Portugal, também sou portuguesa, e é sempre muito bom voltar aqui.

Esta viagem é uma viagem diferente, só com amigas...

Sim, foi mesmo para reunir amigas e ser uma viagem só de mulheres. Somos amigas há quase 30 anos e tentamos fazer isto há muito tempo. Já temos todas vidas feitas, com filhos, carreiras, então foi difícil conseguir, e estamos de facto a realizar um sonho. É bom demais, uma experiênci­a muito agradável e acho que também muito inspirador­a para outras mulheres.

É abordada na rua? Sente o carinho por parte do povo português?

Sim, sou, e recebo muito carinho. São sempre muito recetivos, admiradore­s do meu trabalho. É muito bom sair da minha terra, vir para outro lugar, e sentir isso. E esta é a minha segunda terra, porque aqui sinto-me como se estivesse em casa.

E piropos?

Não oiço ‘cantadas’. Os portuguese­s são muito educados. E toda a gente sabe que sou casada [com o também ator Otaviano Costa], o meu relacionam­ento é muito público. As pessoas perguntam por ele e estão sempre a falar de nós enquanto casal. Fico sempre muito ‘vigiada’ [risos].

E como é lidar com a saudade, ao deixar o marido [Otaviano Costa] e as filhas [Giulia, fruto do primeiro casamento com Marcos Paulo, e Olivia, do atual marido] longe?

Morro de saudades. Já estou no limite. Mas estou sempre em contacto com eles. Hoje em dia, com as tecnologia­s, é muito fácil. Distancia-se quem está perto, mas junta-se quem está longe.

Que memórias tem de Portugal?

Os meus avós, muito presentes na minha vida, muito importante­s. A minha avó deixou-me muitos dos hábitos portuguese­s. Desde as toalhas de galo que herdámos dela, às sobremesas maravilhos­as que ela fazia, ao bacalhau… Tenho grandes memórias que ainda tenho presentes na minha vida.

O que acha que herdou das raízes portuguesa­s?

Acho que tenho bastantes coisas portuguesa­s. Aquela caracterís­tica do povo português de receber, de acolher e de se importar com o outro... eu sou assim também. Para mim é importante que as pessoas estejam bem, procuro saber como estão, se posso fazer algo por elas. E eu também sou muito comilona [risos]. Há algo de Portugal dentro de mim, sem dúvida. Eu amo a culinária portuguesa. Posso comer bacalhau todos os dias que não enjoo, fico feliz e ainda quero mais [risos]. E os doces são maravilhos­os. Provo tudo, gosto de me aventurar.

As suas filhas conhecem Portugal?

A Olívia, de oito anos, ainda não, mas a Giulia sim. Ela amou, já estava a querer vir morar para cá.

E a Flávia nunca pensou nessa possibilid­ade de virem para cá morar?

Muitas pessoas me perguntam isso. Acho que, de facto, era capaz de morar aqui e seria muito feliz. Não é pela carreira que não venho, porque podia apostar aqui. É por pensar nos meus pais, que já têm mais idade [o pai 83 e a mãe 70], e é um privilégio ainda os ter comigo, com saúde, nos meus irmãos de quem também sou muito

próxima. Toda a minha família é unida. E para mim seria um buraco largar isso tudo.

A filha mais velha [Giulia] já está com 19 anos. Já custa ver a filha ‘voar’?

Eu acho que é bom, é gostoso. Ela agora está naquela fase de ebulição de início da faculdade, a querer que dê certo, sem certezas se é este o caminho ou não. São milhões de perguntas em relação à carreira, ao futuro... Eu entendo porque também vivi isso e digo-lhe para ter calma, digolhe: ‘Amor, tudo o que você está a passar é normal, é positivo, vai passar e os caminhos vão-se abrindo’. Nós temos muita cumplicida­de, conversamo­s bastante.

Quando era jovem também passou por essas incertezas... Deixou os estudos em Direito para ser atriz. Arrependeu-se?

Sim, por isso entendo essa inquietude. Nunca me arrependo porque o meu sonho era ser atriz, era atuar. Estudar Direito foi só um plano B.

E hoje, quando olha para a longa carreira de sucesso que construiu, como se sente?

Já são 30 anos de carreira e parecem menos. Passaram muito rápido. A se nsação que te nho é que e nt re i numa sessão de cinema e quando saí já aconteceu isto tudo [risos].Mas ao olhar para trás tenho muito orgulho em tudo o que construí, orgulho de toda a minha história. Sei o quanto a carreira que escolhi é difícil, então sou muito agradecida. Sou feliz todos os dias a fazer o que eu mais amo. E isso não tem preço.

Em relação a esta personagem [Rita de Cássia] nesta última novela [Sétimo Guardião], como foi dar

“TENHO ORGULHO NO QUE CONSTRUÍ”

“QUERO CONSEGUIR VIVER BASTANTE E MORRER COM A CABEÇA BEM JOVEM. A META É ESSA, O INTERIOR”

-lhe vida?

Foi muito legal. A minha personagem é uma mulher muito à frente do seu tempo. E tive o prazer de contracena­r com o Milhem [Cortaz], que é um atorzão, que só conheci neste projeto. E é muito importante haver esta sintonia e cumplicida­de com o nosso parceiro. É um ano de convívio, a maior parte do tempo é com ele, e se não fosse bom este papel tinha sido um fardo.

Acha que a personagem ajudou a quebrar alguns tabus?

Acredito que sim. Acho que trouxemos à tona as conversas sobre fantasias, que são tão importante­s para um casal. É preciso partilhar essas fantasias. Foi saudável, porque todas as vezes era disso que se falava: realize as suas fantasias com o seu parceiro.

Nas cenas mais ousadas, exibiu uma excelente forma física. Qual é o truque para a manter aos 45 anos?

É o equilíbrio de uma vida inteira a treinar duas ou três vezes por semana. Não gosto de treinar, mas gosto de comer, e como gosto de ser magra, a única forma é treinar, não tenho outro jeito [risos]. Também adoro praticar desporto em contacto com a natureza, fazer caminhadas, ioga, meditar.

E como consegue gerir as horas para ter tempo para tudo?

Às vezes consigo, às vezes não. Mas as amigas entendem a falta de tempo, o marido também. São todos compreensi­vos. Às vezes vou começar um novo projeto e dizem-me: ‘Vais começar uma novela, adeus. A gente já sabe que te perdeu’ [risos]. Mas para mim é sem dramas. É stressante, mas também é o que me alimenta, o que me faz sentir bem.

O mundo da televisão é um mundo onde a imagem tem cada vez mais importânci­a. Com o passar do tempo, pondera um dia recorrer a cirurgias plásticas ou é uma coisa que a assusta?

Não tenho nenhum problema com isso. Ainda não senti a necessidad­e, mas não vou dizer que nunca farei. Eu quero é cultivar-me, conseguir viver bastante e morrer com a cabeça bem jovem. A meta é essa, a cabeça, o interior, a alma.

Não tem vontade às vezes de desligar e não ser conhecida?

Vou para fora viajar e já ninguém me reconhece. Viajar para Portugal é que é como se viajasse para dentro [risos].

 ??  ??
 ??  ??
 ??  ??
 ??  ??

Newspapers in Portuguese

Newspapers from Portugal