O Padre Gama
Opadre Gama foi expulso da Igreja católica em 1972, devido a comportamentos graves. Não há notícia dos motivos para ser banido. Sabe-se que continua a usar vestes de sacerdote, crucifixos, hóstias e que dedicou os últimos 48 anos a fazer exorcismos, curas milagrosas, com que governa a vida. E bem, segundo se sabe. Diz ele que Deus lhe deu vários dons. Tirar o diabo do corpo de mulheres em aflição com medo de futuras agruras no Inferno. Segundo o Gama, Deus foi tão generoso que lhe deu um supremo dom. Cada vez que por ele passa um cadáver, o ex-padre arrota! Um santificado arroto, arrancado da profundeza das entranhas sagradas, a mais ordinária manifestação da prova de que o Gama e o Além, é tu cá, tu lá. Não admira que se vanglorie de ter 40 padres sob tratamento. Compreende-se. Quanto mais perto do Gama, mais junto de Deus Pai.
Agora a coisa correu mal. Foi acusado de violência sexual contra uma das crentes do seu rebanho. A pre
tensa ofendida não percebeu que ele usa as mãos, o corpo, os baixios sexuais como aplicação terapêutica. Jacques Le Goff ou Éloize Mozzani, especialistas em Idade Média, mostraram o complexo de superstições e crenças, de bruxas e curandeiros, que faziam estremecer os homens. Por isso, que deixemos os conhecimentos fósseis do Gama, vindo dos séc. X e XI, e questionemos a galeria de mulheres e homens que lhe sustentam a manha com o séc. XXI já adolescente. Gente que ‘cheira a passado’, como diz o burlão. Gente feita de uma multidão enorme que luta para vencer medos antigos e se recolhe às bem-aventuranças de um ex-padre com lábia. Uma multidão das muitas multidões que vivem longe de outros saberes que não sejam fés desesperadas. É o problema das pequenas e fracas elites nacionais. Não conhecem o País medievo onde habitamos. Não espanta que os Gamas ocupem os lugares que a literacia há muito deveria ter por lugar. Nada de novo. É um fado português!
NÃO ESPANTA QUE OS
GAMAS OCUPEM
OS LUGARES QUE A LITERACIA HÁ MUITO
DEVERIA TER