Correio da Manhã Weekend

Heróis sem capa

- Ricardo Valadas PRESIDENTE DA ASFIC/PJ

Recordo, sem saudade, o discurso de uma alta responsáve­l da Justiça em que, imitando os discursos políticos da época, afirmou, e passo a citar, que “a corrupção em Portugal é residual”. Todos os discursos de hoje têm uma nota de afinação distinta: a corrupção existe e precisa de ser combatida. As sucessivas operações, levadas a cabo pela Polícia Judiciária, semana após semana, levaram a que hoje se fale no combate à corrupção como algo que fez e faz parte do ADN do nosso País. Para alguém mais desatento, parece que a PJ é uma prioridade em todos os orçamentos de

O DINHEIRO QUE FOI E É DESVIADO PODIA SER INVESTIDO EM SERVIÇOS PÚBLICOS

Estado. Errado. Não é, nem nunca foi. Basta que falemos com alguém da PJ e vejamos os números de pessoas que investigam a corrupção. Basta que pensemos por que razão não se investe nesta organizaçã­o, quando o dinheiro que foi e é desviado do erário público poderia estar a ser investido nos serviços públicos. Hoje sei porque apenas cerca de 3% dos candidatos conseguem entrar nos quadros da PJ. Não é por nada de especial. Não é por serem melhores que ninguém. É apenas por terem uma resiliênci­a singular. Não discursam. Apresentam resultados. São heróis sem capa porque a vontade de construir é enorme. De denunciar, demonstrar e, apesar de tudo, saber que, por muito que tentem, nunca nos calarão.

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