Correio da Manhã Weekend

Leopold von Sacher -Masoch era um nobre austríaco que

‘Inventor’ do masoquismo gostava de mulheres vestidas com peles

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tinha prazer sexual em ser açoitado e humilhado por mulheres, de preferênci­a vestidas de peles. Passou à história como o inventor

do masoquismo

Ele concordava em ser escravo dela, com a condição de que ela usasse peles

Leopold Ritter von Sacher-Masoch (1836

-1895) foi um escritor de origem nobre nascido em Lemberg, na Galícia (atual Lviv, na Ucrânia), então parte do império austríaco, famoso por ter sido o inspirador da prática sexual conhecida por ‘masoquismo’. Historiado­r, os seus primeiros livros foram ensaios sobre cultura e folclore.

Em 1869 conheceu Fanny Pistor, que usava o título de baronesa. Tornaram-se amantes e assinaram um contrato pelo qual ele concordava em ser escravo dela, com a condição de que ela usasse peles sempre que o açoitasse. Viajaram de comboio para Itália, ela em primeira classe e ele, no papel de humilde criado, em terceira. O episódio deu origem ao livro ‘Vénus em Peles’ (1870) que conta a relação entre Severin, o escravo voluntário, e Wanda, a dominadora que o fustiga e humilha até ele atingir o prazer.

A prática sexual descrita em ‘Vénus em Peles’ foi estudada pelo psiquiatra alemão Krafft-Ebing, que a incluiu no seu tratado das perversões ‘Psychopath­ia Sexualis’ (1886) com o nome de masoquismo, mais tarde vulgarizad­o pelos trabalhos de Freud. Sacher-Masoch não gostou, mas as memórias da sua primeira mulher, Aurora von Rümelin, publicadas depois de ele morrer, revelaram que ele tentou reencenar com ela aquelas práticas, contra a sua vontade.

Qualquer semelhança entre o masoquismo e o arremedo soft de ‘As 50 Sombras de Grey’ e outros subproduto­s é mera coincidênc­ia.

A dor que me inflige é prazer. Açoite-me à vontade

Do livro ‘Vénus em Peles’, trad. Ana Sofia Nobre, Vizzeo Edições “(...) Ela estava no meio da saleta, vestindo

uma túnica de cetim branco, que lhe caía sobre o corpo como uma luz, e uma exuberante kazabaika de cetim escarlate, debruada abundantem­ente a arminho. (…) Avancei rapidament­e para ela, tentei abraçá-la, beijá-la. Ela recuou um passo e examinou-me, minuciosam­ente, de alto a baixo.

-Escravo!

- Senhora! – ajoelhei-me e beijei-lhe a bainha da túnica.

(…) – Silêncio, escravo!

Subitament­e, com um olhar furioso, de um modo selvagem mesmo, açoitou-me com o chicote. Contudo, um segundo depois, pôs o braço à volta do meu pescoço, com meiguice, e encostou-se a mim com compaixão.

- Magoei-o? – perguntou meio envergonha­da, meio ansiosa.

- Não! – respondi. – E mesmo se tivesse magoado, a dor que me inflige é prazer. Açoite-me à vontade, se lhe agrada.

- Mas não me agrada.

(...) - Açoite-me! – roguei-lhe. – Açoiteme, sem piedade!

(…) Cada golpe feria-me o corpo, que continuava a arder, mas essas dores deliciavam-me pois vinham da mulher que adorava e por quem estava pronto, a cada minuto, a oferecer a minha vida.

Nesse momento, ela parou.

-Estou a tomar-lhe o gosto - disse ela. (…) Sinto uma luxúria cruel ao vê-lo a tremer, a contorcer-se sob o meu chicote e, finalmente, a ouvi-lo a queixar-se e a gemer, incessante­mente, até implorar por misericórd­ia. Continuo a açoitá-lo, sem piedade, até que desmaie. Você despertou em mim forças perigosas. Agora, levante-se.

Agarrei a mão dela, tencionand­o beijá-la. -Que insolência!

Ela deu-me um empurrão, afastando-me. - Para longe da minha vista, escravo!

(…) Ela pôs-se à minha frente. Tinha a mão esquerda assente na anca e a direita a agarrar o chicote. Deu uma curta gargalhada.

- Agora o jogo de representa­ção entre nós acabou-se – disse ela, cruelmente fria. – Agora a situação é séria, meu palerma… que eu ridiculari­zo e desprezo. Na sua louca cegueira, rendeu-se-me como sendo um brinquedo… a mim, uma mulher caprichosa e arrogante. Já não é o meu amante, agora é o meu escravo. A sua vida e a sua morte estão à mercê dos meus caprichos.

(…) As chicotadas caíam sobre mim, rápidas e incessante­s, com uma força terrível, nas costas, braços e pescoço. Cerrei os dentes para não gritar. A seguir acertou-me no rosto. O sangue quente escorria-me pela pele abaixo, mas ela ria-se e continuava a açoitar-me com o chicote.

- Agora percebo-o – gritou ela. – É realmente um prazer ter alguém sob o meu poder. Mais importante ainda, um homem que me ama… você ama-me? Não… oh! Irei desfazê-lo em pedaços. A minha satisfação aumenta a cada pancada. Contorça-se, grite, lastime-se! Não terei piedade de si.

(…) Aproximei-me da bela mulher, que nunca tinha parecido tão sedutora como hoje, com a sua crueldade, com o seu escárnio.

- Mais um passo – ordenou Wanda. – Ajoelhe-se e beije-me o pé. (…)”

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