Correio da Manhã Weekend

CONTÁGIO CEREBRAL

- FERNANDO ILHARCO PROFESSOR UNIVERSITÁ­RIO ANTIGA ORTOGRAFIA

Quando as pessoas estão em grupo, intera

gindo umas com as outras, os seus cérebros tendem a sincroniza­r-se e a reagir da mesma maneira. Umadas formas mais caracterís­ticas de reacção do cérebro humano é sincroniza­ndo-se com outros cérebros, defende a investigad­ora Tali Sharot, do University College de Londres, que tem estudado a forma como o cérebro responde emocionalm­ente no dia-a-dia. No livro ‘The Influentia­l Mind’, Sharot descreve uma experiênci­a levada a cabo na Universida­de de Princeton, nos Estados Unidos, na qual através da técnica da ressonânci­a magnética se observou os cérebros de várias dezenas de pessoas que assistiam aumdiscurs­o político. Os registos obtidos mostraram a sincronia existente entre os cérebros. Ao mesmo tempo, os cérebros das diferentes pessoas presentes tinham as mesmas reacções; os registos cerebrais eram similares.

A sincronia colectiva dos cérebros pode significar algo mais do que umsimples, e ainda assim complexo, alinhament­o linguístic­o ou cultural. Pode haver algo aumnívelma­gnético ou químico.

Por outro lado, na comunicaçã­o digital em grupo, emque as pessoas estão emespaços diferentes e longe umas das outras, a sua disposição, o seu estado emocional, parece também ser contagioso.

Há alguns anos foi levado a cabo um estudo sobre a comunicaçã­o nas redes sociais. Cerca de 500 mil pessoas, utilizador­as regulares do Facebook, foram alvo de estudo quanto à publicação dos seus ‘posts’, publicaçõe­s de texto ou de fotografia­s, que cada uma fazia na sua página pessoal darede social. Os investigad­ores concluíram que os utilizador­es que liam mais ‘posts’ positivos tinham maior propensão a escrever e a partilhar conteúdos positivos, enquanto os outros, os que liam mais ‘posts’ negativos, publicavam também com mais frequência ‘posts’ negativos.

Em 2015, um outro estudo relacionou o uso do Twitter com um maior ritmo cardíaco. Quanto mais mensagens se escreve no Twitter mais envolvimen­to emocional se experiment­a; mais batidas do coração, mais transpiraç­ão e mais as pupilas se dilatam.

Concluindo, a comunicaçã­o emgrupo, presencial oudigital, parece de facto levar a algumasinc­ronização dos cérebros das pessoas em causa, das suas maneiras de sentir e de pensar, isto, seja por motivos comunicaci­onais, linguístic­os, culturais ou mesmo biológicos. Existe umatendênc­iaclarapar­aos cérebros de quem interage, no mesmo local ou em locais diferentes, seguirem os mesmos padrões.

Tali Sharot, ainvestiga­dora que citámos acima, diz, no entanto, que o facto de sabermos que as coisas se passam deste modo é importante. Pode ser precisamen­te essainform­ação, o conhecimen­to de que existe uma tendência para o contágio e para a sincronia cerebral, que nos pode dar uma maior capacidade de distanciam­ento das dinâmicas grupais e, por isso, ummelhor controlo emocional.

Em grupo, física ou digitalmen­te, os cérebros tendem a sincroniza­r-se

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