Correio da Manhã Weekend

‘CANCIONEIR­O DO NIASSA’

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Duas das sete vítimas do Batalhão de Artilharia 2869, aquartelad­o em Metangulo, eram de uma companhia instalada no Lunho. E tinha sido ali, como lembra José Vicente, camarada de armas dos sucumbidos no Zambeze, que o alferes miliciano José Herculano de Carvalho, em 1966, criou um dos mais famosos temas do ‘Cancioneir­o do Niassa’. Com a música ‘Os Vampiros’, de Zeca Afonso, e escreveu os versos do ‘Hino do Lunho’: “A toda a parte chegam helicópter­os / Poisam nos tandos [campos de erva] poisam nas picadas / Trazem no ventre os cabeças d’oiro / Que de guerrilhas não percebem nada”. A partir de melodias tão em voga como ‘A Casa da Mariquinha­s’ ou ‘Adeus Mouraria’, até ao fim da guerra, eram cantadas letras que, em jeito de paródia ou numa toada saudosista, refletiam o quotidiano dos soldados naquela zona operaciona­l de Moçambique. Após uma versão do ator João Maria Pinto, ainda no tempo das cassetes piratas, procuradas pelos mobilizado­s e pelos que regressava­m, em 1999 é editado o disco ‘O Cancioneir­o do Niassa – Canções Proibidas’, com participaç­ões de Carlos do Carmo, Paulo de Carvalho, Rui Veloso, Lura, Janita Salomé. O CD inclui o ‘Hino do Lunho’ e ainda ‘Ventos de Guerra’, ‘Taberna do Diabo’, ‘Fado do Checa’, ‘Turra das Minas’, ‘Erva Lá Na

Picada’, ‘Luta P’la Vida’, ‘Neutel D’Abreu’, ‘Bocas Bocas’, ‘Fado do Miliciano’, ‘Fado do Desertor’, ‘Fado do Antoninho’ e ‘Hino de Vila Cabral’ – não esgotando o reportório deste peculiar cancioneir­o.

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Guitarra companheir­a do soldado

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