Correio da Manhã Weekend

DOS SANTOS POPULARES AOS SANTOS POPULISTAS

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Todos os dias serão dias de São Marcelo

Queridos Santo António e São João.

Eu não queria, juro que não queria, mas vocês sabem comoéopovo.Qu ando se lhe mete uma coisa na cabeça, não há nada a fa

zer. Eu bem tentei dissuadi-lo, que não fazia sentido, por quem sois, onde já se viu, um Presidente da República feito santo popular, que não podia ser, protestei até à última das minhas forças. Mas já não havia nada a fazer.

As pessoas já acorriam em procissão para Belém, acendiam velas, faziam oferendas, imprimiam pagelas com a minha foto, até milagres me atribuíram (e não foi sequer o António Costa). Enfim, quando dei por mim estava canonizado. Vejam lá vocês, eu transforma­do em São Marcelo!

Foi então que eu disse para mim próprio: se é para ser, pois que seja, então! E que seja em grande! É por isso que vos escrevo, pois tenho aqui algumas ideias que queria trocar convosco, que sois infinitame­nte mais experiente­s do que eu nestas andanças. Aliás, até tinha pensado em convocar um Conselho de Santos Populares, assim num conceito mais alargado. Chamava o São Pedro, evidenteme­nte, mas também o São Judas Tadeu, a Santa Teresinha, o São Bartolomeu, e depois vinham outros em esquema rotativo, ou consoante a especialid­ade de cada um. Eu não me importo de presidir, estou habituado, não é maçada nenhuma. Quem dorme três horas, também dorme duas…

Temos imensa coisa para discutir. Não falo por mim, mas preocupa-me muito a atual descrença dos crentes, o afastament­o do rebanho, o défice de esmolas, o surgimento de santos populistas, o fenómeno dos fake santos. Como veem, temos uma agenda cheia! Além de outras questões candentes como, por exemplo, esta crise que se vive à direita de Deus Pai. É ou não motivo de preocupaçã­o? A mim preocupa-me, digo-vos já.

Também estou a pensarem inova rum bocadinho, vocês não concordam? Se inovei como Presidente, vaiparecer malse não inovo como santo. Aprincipal inovação é que não terei um dia específico para ser celebrado, tal como vocês têm o dia 13 e o dia 24 de junho. Não podemos lembrar-nos de Santa Bárbara só quando troveja, não é? O melhor é deixar em aberto, sem data fixa, quando der mais jeito às pessoas. Assim como assim, eu ando sempre por aqui, as pessoas veem-me na rua, ia ser estranho eu recusar umasanto-selfie, umabênção ou um milagre. É por isso que já decidi: todos os dias serão dias de São Marcelo.

Mas não se preocupam que não vou invadir o vosso santo território. Perguntem ao Costa se alguma vez eu invadi o espaço dele. Nunca! Por exemplo, não vai haver Casamentos de São Marcelo, o que não faria sentido até porque eu próprio não tenho Primeira Dama, como sabem. Em vez disso, vou apostar antes nas Desavenças de São Marcelo. Não temos de ter medo do contraditó­rio, e eu adoro uma boa desavença, sobretudo com os amigos. Balsemão, Portas, Passos, Cavaco, Rio, é só escolher. Também não quero cá martelinho­s como os de São João. Se é para fazer mossa, então que seja uma boa alfinetada de São Marcelo.

A única ideia que vou aproveitar das vossas festividad­es são as marchas populares. Até já escrevinhe­i para aqui uma letrinha. Vejam lá se gostam:

N amar chapara votar Olha o povo tão contente Ajoelhou tem que rezar São Marcelo a Presidente

A sondagem é quem diz Não há nada que enganar São Marcelo está feliz Em Belém temo altar.

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