Lisboa e Algarve já dão sinais de abrandamento
HABITAÇÃO PRESSA Número de casas vendidas até março em queda. Foram realizados seis negócios por cada mil imóveis existentes Descida só não é mais acentuada porque houve pressão das imobiliárias para completar processos já fechados
Omercado imobiliário começou a dar sinais de abrandamento antes mesmo de a pandemia ter obrigado a medidas mais restritivas. A quebra no número de venda de casas só não foi pior porque muitas imobiliárias fizeram pressão para que as escrituras de negócios já fechados fossem assinadas.
O retrato é traçado pelo Instituto Nacional de Estatística (INE) e complementado pela Associação dos Profissionais e Empresas de Mediação Imobiliária. As regiões do Algarve e de Lisboa continuam a ser aquelas onde há mais transações, mas também elas mostram já um ritmo de abrandamento. “Em março de 2020, foram vendidos cerca de 6 alojamentos por mil alojamentos familiares clássicos em Portugal, o que compara com vendas de 6,15 em março do ano anterior e 6,66 em fevereiro de 2020”, resume o INE num documento onde traça o impacto socioeconómico da atual pandemia de Covid-19. A Grande Lisboa e o Algarve continuaram a fazer negócios acima da média nacional, ainda assim já com quebras. “Apesar de verificarem um valor de vendas por mil alojamentos familiares clássicos acima da referência nacional observaram, em março de 2020, uma diminuição deste valor face ao período homólogo: -2,1% e -0,9%, respetivamente”, confirma o INE. Também a região Centro e o Norte –ambas com crescimentos no turismo ao longo dos últimos anos e com um grande número de imóveis a serem habitualmente comprados para alojamento local – sofreram com a menor procura, registando uma descida de 3,7% e 3%, respetivamente, nos negócios imobiliários fechados.
Luís Lima, presidente da APEMIP, explica ao CM que os dados do INE refletem a quebra sentida a partir do meio de março. “Ainda se conseguiram fazer escrituras, de negócios do mês anterior ou com dois meses, mas março já foi um mês complicado”. “Houve poucas escrituras adiadas, conseguiram-se fechar as que estavam pendentes, mas não houve novos negócios, o que é compreensível porque as pessoas não tinham cabeça.” Além disso, explica, “com as imobiliárias encerradas, quase ninguém arrisca fechar negócios apenas pela internet”. “Em abril, a quebra foi ainda mais significativa”, frisa.
O responsável da APEMIP lembra, contudo, que o setor está hoje mais bem preparado e aponta alguns fatores: “não temos um excesso de oferta no mercado imobiliário médio alto e a questão do endividamento foi limitado com as moratórias”. Luís Lima diz mesmo que teve já abertura do primeiro-ministro para um eventual prolongamento das moratórias por mais seis meses. “A procura [por casas] não desapareceu, mas fazer negócios nos próximos tempos será muito complicado”, reconhece. A solução passará, diz, por tentar captar investimento de estrangeiros que, por questões sanitárias, desviem o investimento de países como Espanha e Itália para Portugal.n
IMOBILIÁRIAS ADMITEM QUE HÁ PROCURA MAS NÃO SE FECHAM NEGÓCIOS