Correio da Manhã Weekend

SE ÉS TÃO ESPERTO

- FERNANDO ILHARCO PROFESSOR UNIVERSITÁ­RIO ANTIGA ORTOGRAFIA

Se és tão esperto, porque não és rico? Apetece

por vezes perguntar. Porém quem tem mais sucesso na acumulação de riqueza não são os mais talentosos nem os mais trabalhado­res, defende o estudo ‘Talent vs Luck’, na revista científica ‘Advances in Complex Systems’. Um certo nível de talento e a capacidade de trabalho são importante­s, mas, em geral, quem tende a ter mais sucesso são os que têm mais sorte.

A distribuiç­ão da riqueza segue a regra dos 80:20. Cerca de 20% das pessoas têm 80% da riqueza e cerca de 80% das pessoas detêm 20% da riqueza. Estima-se que metade da população mundial com menores rendimento­s hoje tenha tanta riqueza como as cinco pessoas mais ricas do planeta. Esta desigualda­de é muitas vezes explicada pela meritocrac­ia, por um sistema em que as pessoas são recompensa­das pelo talento, inteligênc­ia e esforço. Os mais talentosos, inteligent­es e esforçados teriam mais sucesso e seriam mais ricos. Mas este estudo mostra que não é bem assim. O acaso tem um papel importante.

Ninguém é um milhão ou 1000 vezes, ou sequer 10 vezes, mais inteligent­e do que a média.

Há quem trabalhe muito, mas ninguém trabalha 100 vezes mais do que a média. Aliás, a inteligênc­ia, o talento e a capacidade de trabalho entre as pessoas não segue a regra dos 80:20. Segue a chamada distribuiç­ão estatístic­a normal, ou seja, simétrica à volta de um valor médio, concentran­do a maioria das pessoas no centro da escala. Por exemplo, quanto à inteligênc­ia analítica, o QI (quociente de inteligênc­ia) médio é de 100. Acima de 125, a pessoa tende a ser considerad­a muito talentosa ou mesmo genial. E ninguém tem um QI de 1000 ou de 10 000. O mesmo se passa quanto ao esforço. Ninguém trabalha 100, 1000 ou um milhão de vezes mais do que a média. E, no entanto, há gente com riqueza milhares ou milhões de vezes acima da média.

Que outros factores poderão ser determinan­tes na criação de riqueza? O estudo referido, assente num modelo computoriz­ado, em que além do talento, da inteligênc­ia e do esforço considerou também o papel do acaso, antecipou com exactidão a distribuiç­ão da riqueza na sociedade ao longo de 40 anos. Os mais ricos, no entanto, não eram os mais talentosos, embora tivessem talento. Mas o que mais explicou a riqueza foi o acaso. Contudo, não inteiramen­te. Não era a sorte pura que estava em causa, mas a forma como as pessoas tiravam partido da sorte que tinham. Quem não tinha sorte, ficava numa situação mais difícil. Mas quem a tinha, podia ou não tirar partido dela. Quem explorava os acasos favoráveis, utilizando o seu talento e trabalho para criar riqueza, era quem mais enriquecia.

Concluindo, até um certo nível o talento e o esforço são necessário­s para ter sucesso. Mas quando se fala de muito sucesso, é raro serem os mais talentosos a terem os maiores sucessos. Eles tendem a ser ultrapassa­dos por outros, menos capazes, mas com mais sorte. Outra conclusão importante, tendo a sorte um papel importante,éa de que para ganha ré preciso jogar – é preciso trabalhar, inovar, adaptar, aproveitar, fazer e fazer de novo.

“Mais do que talento, aproveitar a sorte parece ser decisivo para ser rico

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