Engasgados em notas
Epronto, acabou-se. O FC Porto é o novo campeão nacional e, do Benfica, a coisinha menos virulenta que se poderá dizer é que os ex-campeões morreram engasgados em notas depois de terem faturado uma fortuna com as vendas do Verão passado e depois de, no princípio deste ano, terem ido ao mercado de Inverno cheios de dinheiro nos bolsos e vazios de boas ideias na cabeça. Revoltam-se os benfiquistas, e com razão, contra a campanha de 2019/2020, indiscutivelmente a mais penosa do seu brilhante historial, e procuram agora apontar aos culpados sem errar o alvo, o que não é tarefa fácil tendo em conta que a frustração não é nem nunca foi boa conselheira. E, de facto, já se ouviu tudo nesta vã demanda do porquê. Se para os estilistas a culpa foi dos equipamentos metalizados que prometiam a invencibilidade e que, afinal, eram permeáveis tendo o Benfica metido água por todos os lados, já para os supersticiosos a culpa cabe toda num número: o número 20. Vinte milhões foi quanto o Benfica pagou no Verão por Raúl de Tomás e no Inverno por Julien Weigl, contratações feitas a preços de gente bem instalada na vida e no mercado.
Em termos práticos, mais desafortunado do que o Benfica nesta temporada só mesmo o próprio Raúl de Tomás. Os 20 milhões que o Benfica deu por ele ao Rayo Vallecano não chegaram para transformar o espanholito numa figura da proa na reconquista falhada do título e, passado o Natal, os outros tantos 20 milhões que o Espanyol de Barcelona deu por ele ao Benfica não chegaram para evitar que a histórica equipa catalã escapasse à descida de divisão. Se houvesse adivinhos creditados nesta indústria do futebol teria sido fácil antecipar que qualquer clube que comprasse
Raúl de Tomás em 2019/2020 estaria condenado à maior das desgraças. Em termos puramente mercantilistas, não deixa de ser curioso concluir perante os factos que 20 milhões de euros é o preço que se paga em Portugal por um jogador para lutar pelo título principal e é o preço que se paga em Espanha por um jogador para lutar pela permanência na primeira Liga. Na realidade, nesta periferia exótica da Europa, há uns que são bem mais periféricos e exóticos do que outros.
Julien Weigl, por exemplo, chegou à Luz em Janeiro vindo da fria e racional Alemanha com o intuito, presume-se, de transformar o meio-campo do Benfica num bloco de gelo cem por cento letal e ainda na terça-feira passada, no jogo da Luz com o V. Guimarães, o que Weigl mais parecia era o menos alemão, o menos cerebral e o mais exótico de todos os jogadores da casa pelo tanto que fez em campo para ser expulso da partida. E, assim, de 20 milhões em 20 milhões, lá se foi o Benfica desta para melhor engasgado em notas e coberto de ridículo. Para o ano há mais. E mais barato?n