Correio da Manhã Weekend

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alegada superiorid­ade ética do primeiro Presidente de Angola, o médico e poeta Agostinho Neto, sempre sustentada pela viúva e pelos filhos do ‘fundador da nação’, procurando demonstrar que o regime cleptocrat­a e a nova elite do capital são posteriore­s à sua morte, em 1979, foi, agora, profundame­nte abalada com os escândalos de Carlos São Vicente.

Casado há 35 anos com a médica oftalmolog­ista Irene Alexandra Neto, a segunda filha de Agostinho Neto, o empresário que deteve o monopólio dos seguros das petrolífer­as em Angola até 2017 tem uma conta de 900 milhões de dólares (cerca de 760 milhões de euros) congelada num banco de Genebra. E, desde 22 de setembro, está em prisão preventiva, em Luanda, sendo acusado, pela Procurador­ia Geral da República (PGR) de Angola, da prática de crimes de peculato, corrupção e branqueame­nto de capitais.

A Fundação Dr. António Agostinho Neto, cuja presidente é Irene Neto (que, apesar de não estar divorciada, se tem afastado do marido nos últimos anos), em nota à Imprensa esclareceu que São Vicente nunca terá convivido com o sogro, pois a boda foi seis anos após o seu desapareci­mento. “Não o conheceu e nem tem qualquer ligação com a sua vida pessoal e profission­al”, lê-se no texto subscrito pela viúva, Maria Eugénia da Silva Neto, e pelos três filhos (Mário Jorge, Irene e Leda), onde se protesta contra o “massacre mediático de uma crueldade indizível” para com a memória do antigo político.

Um 'polvo' local

Mesmo não sendo um nome referido quando se enumeram os ‘marimbondo­s’ – denominaçã­o de um tipo de vespa que, desde a Presidênci­a de João Lourenço, passou a designar os maiores corruptos do país –, o monopólio da seguradora AAA no ramo petrolífer­o foi um tema sempre abordado. Em ‘O polvo no paraíso fiscal’, artigo de Rafael Marques, no portal Maka Angola, denuncia-se a forma como São Vicente “conseguiu amealhar de forma tão fácil e desabrida uma imensa fortuna pessoal: com o apoio político-institucio­nal da Sonangol, da Presidênci­a e do BNA [Banco Nacional de Angola].”

Através da “criação de custos inexistent­es”,

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