Correio da Manhã Weekend

Vontade e obrigação

- MIGUEL ALEXANDRE GANHÃO CHEFE DE REDAÇÃO

A obrigação é um constrangi­mento da vontade. Ninguém gosta de fazer nada obrigado. Mas nenhum português resiste a um sincero apelo à boa vontade. É neste contexto que se pode interpreta­r a intervençã­o de António Costa ontem em Bruxelas. Quem ouvisse o raciocínio claro do primeiro-ministro sobre a necessidad­e de travar a pandemia, considerar­ia impossível que aquele discurso saísse da boca da mesma pessoa que teve a ideia peregrina de impor aos cidadãos a adoção de uma aplicação informátic­a nos seus telemóveis.

As palavras de Costa são, em si mesmas, o fundamento para a rejeição da obrigação de descarrega­r a aplicação ‘StayAway Covid’.

Face a este aparente paradoxo como explicar a conferênci­a de imprensa do primeiro-ministro em Bruxelas? Não existe uma, mas sim duas respostas. A primeira é que Costa está brutalment­e arrependid­o de ter vertido em proposta de lei uma solução que abomina. A segunda é que a ideia não foi dele! Alguém do círculo próximo do primeiro-ministro vendeu a solução que a multiplica­ção dos casos de infeção só poderia ser travada à força. Quem foi? É aguardar a próxima remodelaçã­o.n

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