Governo promete manchete para 2041
Aprimeira página do ‘Público’ de quinta-feira repetindo uma manchete de 1999 é um sinal desta má sina que nos governa. O diário não se esqueceu da sua manchete de há 21 anos: fez-lhe referência e mostrou-a no seu interior. Na primeira página é que não. Comparadas as duas manchetes, a de 1999 é cuidadosa: atribuía o TGV a uma grupo de trabalho e atirava a concretização para daí a 10 anos. A manchete de anteontem não faz referência a nada disso, nem mesmo à repetição da promessa e à própria repetição da manchete. Lendo-a na primeira página, parecia que se estava a anunciar um qualquer TGV pela primeira vez. O ‘Público’ errou: vendeu aos leitores gato por lebre na primeira página com plena consciência de que o fazia.
O ‘caso das primeiras páginas’ teria sido apenas anedótico se não reclamasse outro, bem mais interessante: o tema da propaganda, a que o ‘Público’ cedeu, todo lampeiro, o espaço da manchete, e sem os cuidados jornalísticos da de 1999. Arrepia a facilidade com que media divulgam promessas de políticos e também de empresários, treinadores e figurinhas mediáticas — sem escrutínio no momento nem depois. Já escrevi aqui: bom seria os media confrontarem por sistema os fazedores de promessas. Este caso do ‘Público’ é exemplar dessa ausência de escrutínio das promessas, tantas vezes falsas.
A propaganda serve amiúde para os poderosos empurrarem os problemas com a barriga. Nestes meses de desastrosa governação, o PS precisava de tirar alguma lebre da cartola — e tirou este gato a que o ‘Público’ cedeu a manchete. Mil milhões de portugueses, sem contar com os da diáspora, exultaram quando viram a primeira página do ‘Público’ nos noticiários da manhã: “Uau!, vamos fazer Porto-Lisboa em 1h15! Deve ser para breve, pois a manchete nem sequer diz para quando é! Que governo maravilhoso!”
Quando por toda a Internet se espalhou a manchete em conjunto com a de 1999 a manobra de propaganda do governo ficou à vista. Lá vieram a correr Costa e o seu mimado ministro das “infra-estruturas”, Pedro Nuno Santos, tentar minorar a devastação provocada pela singela imagem das manchetes lado a lado, deixando o rei nu: em 1999 prometia o