EUA: contagem final
PARADOXALMENTE, A REGRA DO MICROFONE FECHADO BENEFICIOU
TRUMP
Assistimos, ontem, ao último debate entre Biden e Trump. Mais uma vez, ninguém venceu. No primeiro sucedera o mesmo, mas escapou aos analistas que, apesar de ninguém ter ganhado, houve quem perdesse. O inefável Trump perdeu contra si próprio, pela sua agressividade e por se ter provado que não consegue portar-se com decência. As sondagens refletiram esta perceção.
Desta vez, Trump não se conseguiu derrotar! Paradoxalmente, a regra do microfone fechado beneficiou-o. Em substância, Biden teve razão na generalidade dos temas e demonstrou que tem um programa sério, ficando dúvidas, como de costume, sobre se é exequível. Mas tem razão quanto à pandemia, os cuidados de saúde, o ambiente, os impostos e a política de confrontação.
No discurso, Biden teve de alienar parte do eleitorado (os americanos ricos, ao falar de impostos, e os brancos pobres que trabalham nas indústrias poluentes). No final, Biden
voltou a deixar entrever uma gaguez estoicamente reprimida. O cansaço coincidiu, agora, com os ataques de Trump ao filho e ao irmão, que teriam “usado” o seu nome em negócios no estrangeiro.
É necessária muita desfaçatez para Trump puxar esta conversa. Não há memória de tanto nepotismo como na sua era, com mistura de negócios com assuntos de Estado e a colonização familiar da Casa Branca. Porque não usou Biden tal argumento? Por exaustão, mas decerto também por convicção. Biden não quer hipotecar uma imagem de decência, que Trump pretende conspurcar.
Biden esteve bem ao apelar à união dos americanos em torno de valores tradicionais e ao condenar o discurso de confrontação. Por não ter voltado a perder consigo próprio, Trump pode ter recuperado um pouco. Mas se escolhesse uma palavra de ordem para Biden, diria aos cidadãos americanos: “Votem num Presidente que se preocupe convosco, não num Presidente de comícios.”n