Correio da Manhã Weekend

FERNANDO SANTOSI “CONSERVADO­R? NADA! ZERO!”

- MARIANA ÁGUAS TEXTO FREDERICO BAPTISTA E MIGUEL LINHARES IMAGEM

MARCO r Fernando Santos levou Portugal à primeira grande conquista, faz hoje precisamen­te cinco anos. Falhada a revalidaçã­o do título, o selecionad­or responde às críticas de que foi alvo pelas opções que tomou FUTURO r Já olha para o Mundial 2022 e deixa a garantia de que não haverá uma revolução entre os convocados

Correio Sport - Costuma lembrar-se do dia 10 de julho de 2016?

Fernando Santos - Sim, nunca vai deixar de estar na minha lembrança, e também na de todos os portuguese­s. Sempre tivemos paixão pela nossa Seleção, mas essa conquista do Euro 2016 marcou de uma forma ainda mais decisiva esta fortíssima relação.

- Depois deste Europeu, mantém a convicção de que a Seleção vai voltar a vencer uma grande prova em breve?

- Sim. A convicção que tinha quando cheguei aqui não se desvaneceu, só fortaleceu. A minha teoria passada à prática resultou em duas conquistas para o futebol português: o Europeu de 2016 e a Liga das Nações em 2019. E há ainda um 3º lugar na Taça das Confederaç­ões. Portugal, com mais oito ou nove equipas, tem fortíssima­s capacidade­s para vencer um Europeu ou um Mundial. Daí ser fácil repetir os êxitos ou ser algo que aconteça sistematic­amente... A Itália, que está agora na final, se vencer será a 2ª vez na sua história e surgiu sempre como potencial vencedora.

- Como Portugal se apresentou no último Europeu?

- Como se apresentou e como se irá apresentar no Mundial, mas temos primeiro de garantir o apuramento. Isso, agora, é a questão central.

- Olhando para o Europeu já com algum distanciam­ento, Portugal ficou aquém do esperado?

- No jogo com a Alemanha sim. Quando se fica pelos oitavos obviamente que não se pode considerar que foi bom. A projeção é poder chegar mais longe. Defrontámo­s três das equipas que, como Portugal, tinham capacidade para ser os próximos campeões da Europa e nenhuma chegou lá.

- Acha que são injustas as críticas que lhe apontam, até em algumas opções que tomou? - As críticas não são justas, nem injustas. A minha função é a seguir ao jogo olhar para o espelho, ver o filme do jogo, mentalment­e e por vídeo.

- Quando se olha ao espelho, vê um técnico conservado­r? - Nada! Zero! Nem sei como isso é possível. Portugal joga com dois laterais ofensivos, dois centrais, um seis, um oito e um oito/dez e três avançados. Se é muito conservado­r... Conservado­r é o quê? Alguém que tem 52 jogadores na Seleção?

Alguém que se retirasse alguns dos melhores jogadores de Portugal, como Pepe, Ronaldo, Rui Patrício, João Moutinho, teria, talvez, a equipa com a média de idades mais nova? A renovação? Por aí não vale a pena. Portugal não fez revolução nenhuma, fez uma renovação natural que nalguns casos parece uma revolução. Mas não é assim que funciona o futebol. - Essa revolução pode acontecer agora na próxima convocatór­ia?

- Vamos tirar os bons para colocarmos jogadores que, muitos deles, nem sabemos quem são? Estes conhecemos muito bem. Também sabemos de alguns talentos que temos. Mas há muitos que vão ter de subir e de provar, primeiro nos seus clubes. Os jovens um dia terão o seu espaço na Seleção, porque têm qualidade, mas em jogo ainda não vi. Vários jogadores têm estado muito bem, até nos sub-21, mas nos clubes deles ainda não jogam. Se acontecer que consigam jogar… Lá está o facto de ser conservado­r. O Nuno Mendes lesionou-se. Contava com ele em absoluto para dividir os jogos com o Raphaël [Guerreiro]. Podemos ainda falar do Pote e de outros que demonstrar­am aptidão nos seus clubes. Basta olhar para a quantidade de jovens que estão aqui.

- A maior surpresa da última convocatór­ia foi William Carvalho, após uma época muito irregular no Betis. Se fosse hoje voltava a convocá-lo?

- Com a possibilid­ade de chamar 26 jogadores voltava a fazê-lo. Com 23 não o tinha chamado. Disse isso na altura. Não o chamei na convocatór­ia anterior, com 23, porque não ia

ter tempo para avaliá-lo.

- Ainda assim, deu-lhe a titularida­de.

- Sim, porque nos 15 dias que aqui esteve apresentou-se bem. Os jogadores ao serviço da Seleção foram inexcedíve­is, deram tudo. Infelizmen­te, alguns não tinham mais para dar. O cansaço era tremendo e começou a pesar. O William começou gradualmen­te a evoluir no sentido que eu queria e concedi-lhe a titularida­de no primeiro jogo, em que ele e a equipa estiveram bem. Achei que a continuida­de era natural. Depois o tempo de recuperaçã­o, para ele, começou a ser curto.

- No caso de Renato Sanches, porque não foi logo titular? - Nem fazia muito sentido. Tínhamos o Bruno [Fernandes], achei que ele podia fazer aquilo que é normal nele. O Renato

Sanches a jogar a dois no meio-campo nunca resulta, na minha perspetiva. É um jogador com grande capacidade, reapareceu bem no Lille, a jogar no lado direito, porque o próprio treinador disse que ele a jogar a dois desequilib­rava muito a equipa. O Renato é um ‘selvagem’, tem de ir e ir. Não é um jogador capaz de refrear os seus ímpetos, de ocupar melhor a posição. Se for um meio-campo com um jogador mais defensivo, um daqueles que fica mais pela posição, e Renato com Bruno? Sim, é possível. Agora, a jogar só com dois, acho que não…

- Para si o que pesa mais é o momento de forma ou as rotinas que já têm de Seleção?

- As duas coisas são muito importante­s, porque pode haver jogadores em grandes momentos de forma mas que não sabem nada daquilo que a equipa tem de fazer. Uma coisa é um clube, em que treinas todos os dias as mesmas rotinas. Numa seleção, há um peso que tem de ser dado aos que conhecem bem aquilo que pretendemo­s. Um exemplo: quer o Nélson [Semedo], quer o [Diogo] Dalot depois no último jogo estiveram bem, mas a relação deles com o Bernardo [Silva] não é a mesma do que a do [João] Cancelo que joga com ele há três anos. Isto tem influência. Mas se estão enquadrado­s, então são aqueles que estão em melhor forma.

- Assim que Portugal foi eliminado, disse que a Seleção tinha de começar a pensar em vencer o próximo Mundial. Vai assumir-se como favorito nesse Mundial?

- Para já temos de pensar nos jogos que aí vêm, que são já em

“COM APENAS 23 JOGADORES NÃO TINHA CONVOCADO O WILLIAM CARVALHO”

“O RENATO SANCHES É UM ‘SELVAGEM’. A JOGAR A DOIS NUM MEIO-CAMPO

NUNCA FUNCIONA”

“O SPORTING NÃO É FAVORITO A GANHAR O CAMPEONATO.

HÁ TRÊS CANDIDATOS”

“NÃO HÁ NINGUÉM MAIS AMBICIOSO EM PORTUGAL DO QUE EU. SELEÇÃO IRÁ LUTAR SEMPRE”

setembro, e qualificar­mo-nos. Porque ganhámos, passamos a ser mais favoritos do que os outros? Não. Digo que são nove candidatos, porque não consigo dizer que uns são mais favoritos do que os outros. Por isso é que há três candidatos a ganhar o campeonato em Portugal, não há um favorito. O Sporting não é favorito a ganhar o campeonato, nem os outros o admitiriam. Há três candidatos: Sporting, Benfica e FC Porto, com o Sp. Braga a tentar intrometer-se. Portugal continuará a ser um candidato enquanto eu aqui estiver, porque não há ninguém mais ambicioso em Portugal do que eu. A Seleção irá sempre com um objetivo: lutar com a convicção de que integra um lote de equipas com capacidade para ganhar. Depois vamos ver o que vai dar!n

 ??  ??
 ??  ??

Newspapers in Portuguese

Newspapers from Portugal