Não há batuta
Faltam três anos e 3 meses para o termo do atual mandato dos órgãos sociais do Benfica e ninguém no seu perfeito juízo acredita que o maior clube português siga até outubro de 2024 dirigido por um vice-presidente cooptado à luz de Estatutos, bondosamente vagos nestes pormenores, tendo em conta a “impossibilidade física” de o presidente eleito, Luís Filipe Vieira, exercer as suas funções. Reza o artigo 62º que “compete ao presidente da Direção convocar e presidir às reuniões da Direção sendo, nas suas faltas e impedimentos, substituído pelo vice-presidente, designado nos termos da alínea a) do nº 3 do Artigo 61º”. De um modo geral, precipitou-se a comunicação social a concluir que será Rui Costa o “substituto” de Luís Filipe Vieira por tempo indeterminado.
Os vice-presidentes da Direção do Benfica – um órgão decapitado – emitiram na quarta-feira um comunicado explicitamente vago sobre a matéria da sucessão garantindo, no entanto, que “a ambição, competitividade e gestão do Clube se encontram asseguradas, no respeito e em observância das normas regulamentares” e garantindo também que “todos os membros da Direção estão firmemente determinados a defender sem qualquer reserva, de forma coesa e como lhes compete, os interesses do Clube”. O que mais salta à vista, e à vista desarmada, deste texto oficial não é nada que nele conste. É, justamente, o que nele não consta: não há uma palavra, uma sílaba, uma vírgula que apontem para o menor indício de solidariedade institucional com o presidente da Direção nesta hora negra do Sport Lisboa e Benfica. E, assim, ficou claro que os vice-presidentes eleitos em outubro de 2020 na lista de Luís Filipe Vieira pretendem continuar a gerir a grande casa como se nada se passasse de anormal tendo em conta que o clube “não é objeto da investigação” pelo que todos se empenharão “em dar plena colaboração às entidades competentes, no sentido de apurar a verdade até às últimas consequências”. Não haverá, certamente, cidadão nacional mais estupefacto com o teor desta comunicação do que o próprio Luís Filipe Vieira.
Voltemos, então, a Rui Costa que se viu apontado a um lugar para o qual não se candidatou e, obviamente, para o qual não foi eleito. Se para estas coisas práticas da vida tiver Rui Costa os mesmos dotes de inteligência que exibia em campo quando era jogador de futebol – até lhe chamavam ‘o Maestro’ – não deixará de olhar para a sua alegada indigitação e para a situação do Benfica com as maiores reservas práticas e morais sabendo que o clube não precisa de presidentes-substitutos fragilizadíssimos pelas circunstâncias. Não há batuta de Maestro para isto. Do que o clube precisa é de uma assembleia-geral. E de eleições.n
O BENFICA PRECISA DE UMA ASSEMBLEIA-GERAL
E DE ELEIÇÕES