Leitões & frangos
Há uma semana que não se vislumbram “políticos” nas imediações do nosso futebol. Por “políticos” entenda-se detentores de cargos relacionados com o funcionamento do Estado e com a vida dos partidos reconhecidos como tal. Desapareceram dos círculos da bola todas essas pessoas enquanto o diabo esfrega um olho. Por diabo entenda-se o “mal” que é o oposto do “bem” e, por estes tempos mais próximos, não é de prever aquelas correrias doidas de dirigentes partidários, de autarcas e das mais altas figuras da nação para o galarim onde, de forma contumaz, gostam de se fazer fotografar ao lado de dirigentes de clubes e de jogadores de futebol. Foi um ar que lhes deu? Ah, pois foi. E porquê?
A promiscuidade entre o futebol e a política não é, de maneira nenhuma, um pecado do futebol. É um pecado da política que ensombra o exercício da arte de governar tão facilmente seduzida pela popularidade do mundo da bola a ponto de já se ter visto, por exemplo, um presidente da Assembleia da República nas instalações da dita Assembleia da República a debitar para um batalhão de microfones opiniões e apelos sobre a vida diretiva do seu clube do coração como se o palácio de São Bento, a casa da democracia, fosse um estúdio de televisão daqueles que nos enchem as noites com combates de lama entre apaniguados dos principais emblemas nacionais. Quando se trata da seleção nacional o forrobodó atinge níveis de obscenidade sem paralelo porque, com a desculpa de que a seleção é “a equipa de todos nós” não havendo, portanto, delitos de clubite subjacentes, até já se viu um presidente da Assembleia da República, o mesmo, a aconselhar os portugueses a uma “deslocação em massa” a Sevilha, onde a seleção iria jogar, em plena ascensão da quarta vaga da pandemia que assola o mundo.
Se nos órgãos diretivos do FC Porto coexistem o presidente da Câmara do Porto e o presidente da Câmara de Gaia como se fosse a coisa mais natural do mundo civilizado já nas últimas eleições no Benfica deu que pensar a rapidez com que o presidente da Câmara de Lisboa e o primeiro-ministro saltaram da lista de honra da recandidatura de Luís Filipe Vieira aos primeiros sinais de alerta sobre uma investigação em curso. Se saltaram é porque estavam lá, não é verdade?
O recente almoço, tête-à-tête, dos presi
A PROMISCUIDADE ENTRE O FUTEBOL E A POLÍTICA NÃO É UM PECADO
DO FUTEBOL
dentes do Benfica e do FC Porto na Mealhada, reino dos leitões, a posterior detenção de Vieira e do rei dos frangos e as recentíssimas novas de uma investigação do negócio realizado entre o FC Porto e Portugal Telecom são o conjunto de acontecimentos que, por estes dias, vão garantidamente estabelecer um cordão sanitário que afastará a política do futebol. Depois tudo voltará ao que foi, irremediavelmente. Aos leitões e aos frangos sucederá a sardinha que se quer pequenina como a falta de noção.n