A saúde e o bom nome?
Opresidente do Sporting inaugurou esta semana a Cidade do Futebol e teve a seu lado o presidente da Câmara Municipal de Lisboa. Frederico Varandas disse, do púlpito, a Fernando Medina que o edil “pode continuar a contar com o Sporting para promover o desporto, a saúde e o bom nome da cidade de Lisboa”. Ora aqui está uma alocução discutível. Se a promoção do “desporto” é inquestionável – o Sporting é um clube desportivo e profusamente eclético – já a questão de “promover a saúde” tem muito que se lhe diga em função do que se passou na noite da conquista do título. Em tempo de pandemia, com a bênção da CML e do MAI, milhares de pessoas marcharam festivamente para o centro de Lisboa despertando de imediato o alerta dos especialistas: “É previsível um aumento de casos. Basta uma pessoa ter estado infetada naquele magote à volta do estádio ou da Praça do Marquês para que tenhamos aqui um surto considerável dentro dos próximos dias”, explicou Gustavo Borges, vice-presidente da Associação Nacional de Médicos de Saúde Pública. Também António Silva Graça, médico infeciologista, previu “um aumento de infeções de Covid-19, numa repercussão a curto prazo”. Ninguém lhes ligou a ponta de um chavelho.
Em ano de eleições autárquicas a festa foi preparada pela Câmara de Lisboa que, aliás, a anunciou nas vésperas do acontecimento. Medina chamou os jornalistas e disse-lhes que tudo estava a ser preparado em reuniões com “entidades políticas, forças de segurança, entidades de saúde e representantes do Sporting” e o secretário de Estado do Desporto, João Paulo Rebelo, presente na ocasião, anunciou que seria possível ver um ajuntamento maior do que aquilo que estamos habituados nos últimos tempos, provavelmente no Marquês como tem sido pedido pela maioria dos adeptos leoninos. Siga!
E seguiu-se a quarta vaga da pandemia. Os especialistas não demoraram a associar o ressurgimento das infeções ao acontecimento. O professor Carlos Antunes, que vem monitorizando a epidemia na Faculdade de Ciências da Universidade de Lisboa, falou depois do mal feito: “O que vimos é que as pessoas das idades que estiveram nos festejos do Sporting, entre os 20 e os 40 anos, têm um aumento de casos logo cinco a sete dias depois dos festejos. Quinze dias depois, as faixas dos 50/59 e 60/69, que são os pais. A infeção foi contraída fora e propagou-se à família”. Portanto, quanto a “promover a saúde” estamos conversados.
Quanto a promover “o bom nome” da Capital quem tiver dúvidas que procure saber as perdas do Novo Banco com as VMOC do Sporting e os anos de prisão a que foram condenados um vice-presidente e o líder da claque de Alvalade pelo chiquíssimo crime de assaltos a residências. E também estamos conversados.n
DEPOIS DA FESTA DO SPORTING, QUANTO A “PROMOVER A SAÚDE” ESTAMOS CONVERSADOS