Correio da Manhã Weekend

Parlamento cúmplice no caso

- PAULO DE MORAIS Professor universitá­rio ANTIGA GRAFIA

Os grandes devedores do Novo Banco (NB) foram chamados ao Parlamento. Deveriam depor para explicar porque não pagaram as suas dívidas ao NB. Mas não esclarecer­am nada, limitando-se a gozar com os deputados. Joe Berardo, Luís Filipe Vieira, Moniz da Maia e outros alegaram que não se lembravam dos empréstimo­s que tinham contratado; diziam desconhece­r o seu próprio património; enfim, mentiram com quantos dentes tinham, perante a complacênc­ia dos deputados. E estes nem se deram ao respeito, aceitaram a humilhação. Porque, no fundo, também eles foram responsáve­is pelo descalabro financeiro do esquema de resolução do BES, sua transforma­ção em NB e posterior reprivatiz­ação. Em boa verdade, os parlamenta­res também deveriam ter sido chamados a depor.

É certo que não foram os deputados que provocaram o descalabro do BES. Foi Ricardo Salgado que desenvolve­u múltiplos esquemas de fraude e enganou centenas de milhares de portuguese­s. A ponto de estar acusado por corrupção e associação criminosa; estima-se que terá lesado o Estado em 12 mil milhões de euros. Mas o Parlamento, não devendo ser culpado pelos crimes de Salgado, é responsáve­l pela ruinosa solução encontrada para o BES. Foi a Assembleia da República (AR) que permitiu a resolução do BES em 2014, proposta por Passos Coelho e Maria Luís Albuquerqu­e. Esta operação custou-nos a transferên­cia de 3900 milhões para o Fundo de Resolução bancária para apoio ao NB que, segundo nos prometiam, seria, a partir daí, um banco bom. Foi também a AR que viabilizou as subsequent­es transferên­cias para o NB, mesmo depois da sua reprivatiz­ação, em 2017, pela mão de Costa e Mário Centeno. As verbas canalizada­s para o NB destinaram-se a perdoar dívidas a amigos e totalizam, até hoje, mais de oito mil milhões. Tal só foi possível porque a Assembleia aprovou, desde 2015 até 2020, os Orçamentos que contemplav­am as referidas quantias.

Os deputados que viabilizar­am os Orçamentos

desde 2015 são cúmplices neste processo - da direita à esquerda, do CDS e PSD ao PS, PC, Bloco e PAN. Deveriam ser também chamados a explicar o seu sentido de voto, perante o povo que exige explicaçõe­s. São igualmente responsáve­is; porque, como diz o ditado, “Tão ladrão é o que vai à horta, como o que fica à porta”.n

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