Parlamento cúmplice no caso
Os grandes devedores do Novo Banco (NB) foram chamados ao Parlamento. Deveriam depor para explicar porque não pagaram as suas dívidas ao NB. Mas não esclareceram nada, limitando-se a gozar com os deputados. Joe Berardo, Luís Filipe Vieira, Moniz da Maia e outros alegaram que não se lembravam dos empréstimos que tinham contratado; diziam desconhecer o seu próprio património; enfim, mentiram com quantos dentes tinham, perante a complacência dos deputados. E estes nem se deram ao respeito, aceitaram a humilhação. Porque, no fundo, também eles foram responsáveis pelo descalabro financeiro do esquema de resolução do BES, sua transformação em NB e posterior reprivatização. Em boa verdade, os parlamentares também deveriam ter sido chamados a depor.
É certo que não foram os deputados que provocaram o descalabro do BES. Foi Ricardo Salgado que desenvolveu múltiplos esquemas de fraude e enganou centenas de milhares de portugueses. A ponto de estar acusado por corrupção e associação criminosa; estima-se que terá lesado o Estado em 12 mil milhões de euros. Mas o Parlamento, não devendo ser culpado pelos crimes de Salgado, é responsável pela ruinosa solução encontrada para o BES. Foi a Assembleia da República (AR) que permitiu a resolução do BES em 2014, proposta por Passos Coelho e Maria Luís Albuquerque. Esta operação custou-nos a transferência de 3900 milhões para o Fundo de Resolução bancária para apoio ao NB que, segundo nos prometiam, seria, a partir daí, um banco bom. Foi também a AR que viabilizou as subsequentes transferências para o NB, mesmo depois da sua reprivatização, em 2017, pela mão de Costa e Mário Centeno. As verbas canalizadas para o NB destinaram-se a perdoar dívidas a amigos e totalizam, até hoje, mais de oito mil milhões. Tal só foi possível porque a Assembleia aprovou, desde 2015 até 2020, os Orçamentos que contemplavam as referidas quantias.
Os deputados que viabilizaram os Orçamentos
desde 2015 são cúmplices neste processo - da direita à esquerda, do CDS e PSD ao PS, PC, Bloco e PAN. Deveriam ser também chamados a explicar o seu sentido de voto, perante o povo que exige explicações. São igualmente responsáveis; porque, como diz o ditado, “Tão ladrão é o que vai à horta, como o que fica à porta”.n