Correio da Manhã Weekend

Medalha de lata

- PAULO JOÃO SANTOS DIRETOR-ADJUNTO

Os japoneses guardaram um minuto de silêncio em memória das vítimas da bomba atómica em Hiroshima, a 6 de agosto de 1945. Terão morrido 140 mil pessoas 70 a 80 mil instantes após a explosão, as restantes nos cinco meses seguintes, números conservado­res. A Little Boy foi largada de um bombardeir­o B-29, o Enola Gay, tendo rebentado a 600 metros do chão. “Às 8h14 era um dia de sol, às 8h15 era um inferno”, diz Kathleen Sullivan, diretora de um organizaçã­o que compilou relatos de sobreviven­tes. Nunca nada provocou semelhante destruição. Efeitos ainda hoje são visíveis. Foram cometidas inúmeras atrocidade­s na guerra de 1939-1945, dos campos de extermínio nazis ao bombardeam­ento de Dresden, mas Hiroshima e Nagasaki (três dias e três horas depois) estão noutro patamar. Lembrar as vítimas é refletir sobre o Mundo que queremos e não queremos.

Realizando-se as olimpíadas em Tóquio, era natural que os atletas presentes na competição e os responsáve­is pela organizaçã­o do evento se associasse­m à homenagem. Assim não entendeu o Comité Olímpico Internacio­nal. Não há pódio para tamanha falta de sensibilid­ade e respeito, mas há medalha: a de lata.n

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