Correio da Manhã Weekend

“QUERIA SER PAI E GANHAR UMA MEDALHA NOS JOGOS OLÍMPICOS”

META r Sonhava com mais, mas o canoísta português destaca o quão difícil foi conquistar o bronze em Tóquio AMBIÇÃO r Promete treinar sempre no máximo e já pensa na competição em... 2032

- PAULO JORGE DUARTE TEXTO TIAGO PETINGA FOTOS

Correio Sport - Já tomou consciênci­a da excelência da medalha de bronze nos Jogos Olímpicos Tóquio 2020? Fernando Pimenta - Ainda não. Vou tomando consciênci­a com o passar do tempo e também com as mensagens que vou recebendo. Aí vou despertand­o para a realidade. Sem dúvida que uma medalha como esta é sempre muito especial. Estamos a falar dos Jogos Olímpicos, um evento único, um evento em que os melhores atletas do Mundo chegam lá e falham o pódio, mesmo atletas muito regulares em pódios. Por exemplo, na canoagem, os medalhados nos Jogos Olímpicos Rio de Janeiro 2016 ficaram fora do pódio e são atletas que durante este ciclo olímpico conseguira­m sempre medalhas. Um deles nem sequer chegou às finais.

- Esperava este resultado?

- O nível competitiv­o está muito alto, sabia que havia a possibilid­ade de conseguir uma medalha mas fui sempre alertando: havia a possibilid­ade mas era preciso consumar. A verdade é que consegui ser um dos três atletas mais rápidos a chegar à meta. Claro que ambicionav­a um pouco mais, gostava de mais mas tenho de estar superfeliz porque houve atletas que também foram para estes Jogos Olímpicos para disputar uma medalha e vieram embora sem nada. Só posso estar contente.

- Os maus e os bons momentos deste ciclo olímpico estão justificad­os?

- Sem dúvida que as medalhas, como esta, ajudam sempre a passar os momentos mais difíceis. Não os apagam, como é óbvio, mas penso que terá sido a cereja no topo do bolo. No final deste ciclo olímpico, segundo as estatístic­as internacio­nais da canoagem, fui o atleta mais regular no pódio na vertente K1 1000 metros. Só houve uma competição, na Taça do Mundo em 2019, em que não consegui o pódio mas fiz 4º lugar. De resto, em todas as competiçõe­s da Taça do Mundo, Campeonato­s da Europa e do Mundo, conquistei sempre uma medalha. Só tenho de estar muito feliz por este percurso que fiz nestes últimos cinco anos.

- Esta medalha de bronze tem ‘lasquinhas’ de prata? - [Risos] Sim, tem ali umas semelhança­s, um sorriso. A alta competição é assim mesmo. Há dias em que conseguimo­s vencer por 40 milésimas, no outro dia ficámos à porta de uma medalha. No entanto, muitas vezes conseguimo­s a superação e só tenho de estar de cabeça erguida, convicto de que dei o meu melhor, quer em termos físicos, quer em mentais. O importante é que seja um marco para a continuaçã­o da minha carreira desportiva.

- Levar a chupeta para o pódio teve um grande significad­o para si?

- Foi um momento muito especial porque o ano de 2020 ficou marcado pelo nascimento da minha filha. Tinha dois objetivos: queria ser pai e ganhar uma medalha nos Jogos Olímpicos. Como em 2020 não houve competição (adiada por causa da pandemia), felizmente consegui este objetivo

PERFIL

pessoal de ser pai de uma menina. Este ano de 2021 consegui concretiza­r a segunda parte dos objetivos, a medalha nos Jogos Olímpicos.

- É uma responsabi­lidade representa­r Portugal?

- Sem dúvida. Não sou dos atletas que vestem a camisola da seleção nacional todos os dias, para treinar ou andar na rua. Visto a camisola nos momentos certos e, sem dúvida, quando a visto, sinto a energia e a responsabi­lidade que acarreta. Sabe sempre bem representa­r o nosso país e levá-lo para o mais alto patamar e ao mais alto nível. É para isso que trabalho diariament­e, que me esforço, que me dedico, que abdico da minha vida pessoal e social para poder representa­r os portuguese­s ao mais alto nível.

- Quais são os passos seguintes? - O objetivo é continuar, tenho isso em mente. E tanto tenho em mente que, após esta competição, me referi aos Jogos Olímpicos que vão decorrer na Austrália em 2032, os mais tardios que já estão confirmado­s. Como é óbvio, enquanto o meu corpo e a minha cabeça o permitirem, enquanto me sentir feliz a fazer canoagem, vou trabalhar e esforçar-me e dar o meu melhor para conquistar mais coisas.

- Enviou uma mensagem de

Todos os atletas do Benfica dão o seu melhor. No meu caso, como é óbvio, tento representa­r o clube e a Seleção o melhor possível, com o meu respeito para com todos os adversário­s. Tento passar a melhor energia para os nossos adeptos e aficionado­s, para quem gosta do desporto em geral e para os sócios do clube.n

motivação à equipa de futebol do Benfica antes da partida com o Spartak Moscovo a contar para a Liga dos Campeões. Porquê?

- Quer em termos clubístico­s, quer em termos de seleções nacionais, um atleta quando veste a camisola deve, acima de tudo, assumir um compromiss­o. Se existir um compromiss­o, tem de ser respeitado. Normalment­e, em modalidade­s coletivas, tem de haver um compromiss­o de equipa, uma entreajuda, trabalho e união. É a isso que me refiro, quando se veste a camisola do Benfica é porque somos merecedore­s. Existem milhares de jovens que gostariam de estar no nosso lugar, por isso, no mínimo, devemos dar o nosso melhor e continuar a trabalhar.

- Vai descansar agora?

- Já estou a trabalhar, a movimentar o corpo novamente, porque ainda existem objetivos para esta época desportiva. Trabalho e concentraç­ão são as palavras de ordem que devem fazer parte do nosso vocabulári­o e do nosso ADN. Só isso nos faz seguir em frente e continuar a conquistar resultados.n

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