Jesus, Vitória e as palavras
Na véspera do jogo com o Benfica, o treinador do Spartak disse, e disse muito bem, que não tinha paciência para “novelas” e que não ia alimentar semelhante atrocidade com declarações a propósito do reencontro com Jorge Jesus. “Nunca nos falámos, não vamos falar agora”, foi o que Rui Vitória teve de mais substancial para afirmar perante os jornalistas portugueses em pulgas por frases bombásticas do treinador que sucedeu a Jesus na Luz quando Jesus rumou ao Sporting no verão de 2015. Já lá vão seis anos, mas os episódios oratórios dessa temporada – que culminou com o Benfica campeão – ainda estão fresquíssimos na memória de todos e, especialmente, na memória de Rui Vitória, tal como houve oportunidade de constatar no
JESUS SAIU VENCEDOR DO CAMPEONATO DA ORATÓRIA PORQUE O QUE CONTA SÃO OS RESULTADOS
antes e no depois do Spartak-Benfica da última quarta-feira.
É verdade que Jorge Jesus, que se soube conter nesta viagem à Rússia, foi, no mínimo, desagradável com Rui Vitória quando chegou ao Sporting e se apanhou a liderar o campeonato no início da prova. Não lhe reconheceu competências para o considerar como um colega de profissão e duvidou que Vitória tivesse mãos para o “Ferrari” que lhe deixou de herança. Depois foi o que se viu e o então treinador do Sporting pagou cara a sua bazófia vendo Rui Vitória conquistar dois títulos nacionais de rajada para o Benfica. O sorteio que ditou o reencontro dos dois homens nesta 3ª pré-eliminatória de acesso à Liga dos Campeões causou uma enorme expectativa no nosso país do futebol, uma expectativa potenciada pela crise institucional que avassala o Benfica desde a detenção de Luís Filipe Vieira e pela ruína de futebol que foi a última temporada oficial do Benfica já com Jorge Jesus de volta ao comando do muito depauperado Ferrari.
O jogo de Moscovo acabou por correr muito melhor – muitíssimo melhor – a Jesus do que a Vitória e como a História é sempre feita pelos vencedores acabou Rui Vitória por sair de orelhas baixas perante a opinião pública nacional e, sobretudo, pelos adversários internos do Benfica que sonharam com as consequências assassinas de uma humilhação imposta por Vitória a Jesus à laia de mais uma acha para a fogueira que arde na Luz neste arranque oficial da temporada. Com esta pré-eliminatória, ainda que bem encaminhada para o Benfica, por decidir porque falta o jogo de Lisboa, saiu vencedor do campeonato da oratória o atual treinador do Benfica porque o que conta são sempre os resultados, mais até do que as exibições e do que o somatório de palavras proferidas.
Só as vitórias conferem estatuto. E não é só no futebol que isto acontece. Veja-se como, para a generalidade da imprensa, Pedro Pablo Pichardo passou logo a ser português e deixou de ser “luso-cubano” assim que lhe viram o ouro pendurado ao pescoço.n