O neo Rotativismo português
Daqui a um ano, os protagonistas do panorama político nacional serão outros. Provavelmente, os dois maiores partidos, PS e PSD, terão mudado as suas lideranças. É já quase certo que António Costa vai rumar a Bruxelas, para ocupar o irrecusável cargo de Presidente do Conselho Europeu. O mandato do detentor da função, Charles Michel, termina em maio de 2022 e os líderes europeus não o irão reconduzir, sobretudo depois do episódio conhecido como “cadeiragate”. Quando o presidente turco recebeu os dirigentes europeus e não providenciou uma cadeira para a presidente da Comissão, Ursula von der Leyen, Michel não se insurgiu, como lhe competia. Imperdoável!
O melhor candidato à sucessão de Michel - de direita e do Norte da Europa - é, sem dúvida, Costa, um socialista do sul. Na gestão de equilíbrios políticos e geográficos, é o melhor colocado. Irá repetir a rábula de Durão Barroso. Em Bruxelas, aclamado, Costa irá fazer o que melhor sabe: gerir o vazio de ideias. O Partido Socialista terá então de eleger um novo secretário-geral.
Também no PSD haverá mudança de líder. A confirmarem-se os maus resultados em Setembro, Rui Rio sairá na sequência de sucessivas derrotas eleitorais (legislativas de 2019, europeias de 20, autárquicas em 21). Sem glória, ao fim de quatro anos de fracassos, a Rio restar-lhe-á entregar o PSD nas mãos do senhor que se segue, Rangel ou – até quem sabe? – Pedro Passos Coelho.
Estas alterações no PS e no PSD levarão, certamente em 2022, a um cenário de eleições antecipadas. Haverá uma provável transferência massiva de votos do CDS para o Chega, a par duma reconfiguração do espaço à esquerda do PS (PC e Bloco). Mas, apesar destas alterações à geografia eleitoral, continuaremos, como sempre, a ser governados pelos mesmos. O primeiro-ministro será um socialista (Pedro Nuno Santos ou Fernando Medina); ou um social-democrata (Rangel, Passos ou outro). Com estes actores, o País continuará condenado à pobreza. Este rotativismo PS/PSD já não traz quaisquer soluções para Portugal. Os grupos económicos continuarão todo-poderosos, a corrupção consolidar-se-á. Manter-se-á o essencial, num regime que incorporou definitivamente a máxima de Lampedusa: “Para que as coisas permaneçam iguais, é preciso que tudo mude”.n