Aldrabões!
Portugal foi cúmplice da carnificina que aconteceu e daquela que irá acontecer. Há vinte anos quando Bush decidiu invadir o Afeganistão, mobilizou a NATO, pôs o mundo em sentido porque, agora, era de vez. Os talibãs, que os Estados Unidos armaram quando acontecera a invasão soviética, eram agora os principais inimigos. Albergavam Bin Laden e todos os terroristas do universo. Não se pensou muito no assunto. O esmagamento dos direitos humanos, dos direitos das mulheres, a intolerância religiosa foram considerados motivos suficientes para a guerra. Portugal alinhou, muito contente, nesta saga que levava os valores da civilização ocidental na bandeira.
A derrota episódica dos talibãs mudou parcelas sociais no país. Mulheres que se libertaram da burka e foram estudar. Os homens que fizeram a barba. Os aliados locais que foram tradutores, impulsionadores de um novo Estado por acreditarem que a idade do horror tinha chegado ao fim. Milhares e milhares de afegãos que acreditaram no sonho americano e que se expuseram à ira dos fundamentalistas. O império americano e inglês a ditarem leis e nós, sempre servos, hipocritamente zelosos, acreditámos também. E fomos brincar à guerra.
Passaram vinte anos. Biliões e biliões infinitos de dólares gastos em armamento, em bombas, em estruturas locais. Uma fortuna colossal que acabaria com a fome no Mundo. Vencidos, humilhados, derrotados, os campeões dos direitos humanos, da civilização, da democracia e devotos a Deus, fogem a galope daquele inferno que ajudaram com esta cobardia inqualificável para entregar de novo o poder aos talibãs.
A política caseira, tal como a política internacional, elevada ao cume do cinismo e da hipocrisia. Fogem! Os heróis, ou os pretensos heróis, da guerra inacabada, meteram a viola no saco, admitindo que foram derrotados. Se estes comportamentos não são próprios de aldrabões e de indignos, que venha o Diabo e escolha.n
A POLÍTICA CASEIRA, TAL COMO A POLÍTICA INTERNACIONAL, ELEVADA AO CUME
DO CINISMO