Correio da Manhã Weekend

Ministério (dos negócios) do Ambiente

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Oministro Matos Fernandes é pródigo em proclamaçõ­es na defesa do ambiente. Mas o seu discurso é tão só um disfarce; as suas acções revelam-nos como real objectivo o de servir interesses económicos de alguns empresário­s que se movimentam bem na esfera governativ­a.

O governo aposta nas energias renováveis, com o propósito de substituir a energia poluente, com origem em combustíve­is fósseis. Muito bem! Mas, quando apoia programas de produção de energia a partir do hidrogénio, apenas se quer garantir, a empresário­s próximos do poder, rendas milionária­s; estas revestem a forma de “um apoio que cubra a diferença entre o preço de produção do hidrogénio verde e o preço do gás natural no mercado ibérico” durante dez anos. O risco do negócio para os privados é zero. A factura irá, mais uma vez, para os cidadãos, sob a forma de deficit tarifário.

É também a pretexto de reduzir as emissões de CO2 e evitar o aqueciment­o global que o governo patrocinou o encerramen­to da refinaria de Matosinhos. Apoia a operação com verbas públicas do Fundo Europeu de “Transição Justa” (que vale 75 milhões), a somar às do envelope nacional da política de coesão. A justificaç­ão é falaciosa, porquanto Portugal emite apenas 0,15% das emissões no globo; e, destes, a refinaria representa apenas 1,7%. O benefício ambiental será, pois, residual! Apenas é evidente como única razão desta operação a rentabiliz­ação imobiliári­a nos terrenos libertados, em benefício da Galp.

Mas, ao mesmo tempo que diz defender o ambiente, apoiando negócios privados, o governo não tem assumido as suas responsabi­lidades e é responsáve­l pelo maior crime ambiental de que há memória, o incêndio do pinhal de Leiria, um dos pulmões do país, gerido pelo Instituto da Conservaçã­o da Natureza e das Floresta. Em 2017, ardeu 85% do Pinhal. A sua extinção e de muitas outras áreas florestais faz com que Portugal tenha reduzido a sua capacidade natural para absorver CO2 e transformá-lo em oxigénio. Com tantos incêndios, as florestas nacionais, que têm sido depósitos de carbono, transforma­ram-se em emissores de carbono. Se o governo estava de facto preocupado com as emissões de CO2 e não com os negócios, devia ter concentrad­o os seus esforços a preservar o nosso valioso património vegetal.n

COM TANTOS INCÊNDIOS, AS FLORESTAS NACIONAIS, QUE ERAM DEPÓSITOS DE CARBONO, TRANSFORMA­RAM-SE EM EMISSORES DE CARBONO

SE A PREOCUPAÇíO ERAM AS EMISSÕES DE CO2 O GOVERNO DEVIA TER CONCENTRAD­O ESFORÇOS A PRESERVAR O NOSSO PATRIMÓNIO VEGETAL

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