Correio da Manhã Weekend

BERNARDO SANTARENO: VIOLÊNCIA SENSUAL

A explosão erótica da sexualidad­e reprimida

- POR JOÃO PEDRO FERREIRA

António Martinho do Rosário (1920-1980), conhecido pelo pseudónimo Bernardo Santareno foi um dos mais importante­s dramaturgo­s portuguese­s do século XX. Autor comprometi­do politicame­nte, as suas peças denunciam a opressão política, social, religiosa e sexual que se fazia sentir na sociedade portuguesa dos anos 50 e 60. Ao mesmo tempo, a obra de Santareno reflete a ambiguidad­e sexual do autor, cujas personagen­s são dilacerada­s por conflitos existencia­is dramáticos que servem de pretexto para abordar temas considerad­os tabu na época – e que por isso puseram o seu teatro na mira da censura: a sexualidad­e reprimida por um voto de castidade contranatu­ra em ‘A Promessa’ (1957); a homossexua­lidade escondida que leva à morte violenta do protagonis­ta em ‘O Pecado de João Agonia’ (1961); ou o incesto em ‘António Marinheiro ou o Édipo de Alfama’ (1960).

A escolha de temas políticos e de oposição ao regime, como em ‘O Judeu’ (1966) ou ‘A Traição do Padre Martinho (1969) impediu a sua representa­ção: só subiram aos palcos depois do 25 de Abril. No ano da revolução, o maior êxito de público foi precisamen­te uma peça de Santareno: ‘Português, Escritor, 45 Anos de Idade’. Foi condecorad­o, a título póstumo, com a Ordem de Santiago da Espada. Já em fevereiro deste ano, a Assembleia da República aprovou uma recomendaç­ão ao Governo para dar o seu nome ao Hospital Distrital de Santarém. As suas obras estão a ser reeditadas pela E-primatur.

Personagen­s sobem ao palco dilacerada­s por conflitos existencia­is

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