Correio da Manhã Weekend

Do livro `Teatro I. Obras Completas', ed. E-primatur

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Tu és linda, Maria do Mar! (Beija-a, furiosamen­te, na boca. Desejo raivoso: posse-luta)

A Promessa

“(…) MARIA DO MAR

Mas o que é isto?! (Desprende-se, num esticão: direita, orgulhosa.) Eu sou uma mulher casada, Labareda!

LABAREDA

Mal casada, Maria do Mar...

(...) MARIA DO MAR

(Que se escapa.) Larga-me! Aqui no meu corpinho ninguém toca.

LABAREDA

(Sensual.) Tu já não podes mais, Maria do Mar, eu bem o sinto... (Avança uns passos.) Ninguém, ninguém te toca?...

MARIA DO MAR

Só o meu homem, o meu marido. LABAREDA

(Outra vez junto de Maria do Mar.) Nem ele, nem ele!...

MARIA DO MAR

(Insegura.) Pois que julgas tu, Labareda? Eu sou uma mulher séria...

LABAREDA

E nova e bonita...

MARIA DO MAR

(A recuar.) Então nós recebemos-te em nossa casa, tratámos-te as feridas, salvámos-te... e tu é assim que nos pagas?! O Zé tem razão: tu és peçonhento, traiçoeiro... LABAREDA

(Perseguind­o Maria do Mar.) Eu só sei que estou doido por ti, Maria do Mar, que não vejo mais ninguém no mundo... (abraça Maria do Mar) que não há força capaz de te arrancar dos meus braços! (Tenta beijar Maria do Mar.) Maria do Mar...

MARIA DO MAR

Deixa-me!... Malvado... larga-me!... (A ceder.) Olha que vem aí gente... não, Labareda, não!... Larga-me, larga-me!... LABAREDA

(Apertando mais.) Tu tens de ser minha... já não podes fugir... já não és capaz... MARIA DO MAR

(Ainda a debater-se.) Nunca, nunca!...

LABAREDA

Sim, Maria do Mar, sim...

MARIA DO MAR

(Sem forças.) Ai, Labareda...

LABAREDA

Gatinha... gatinha brava!... Tu já não dormes... Tu já não comes... Tu só pensas em mim... só em mim... és minha, Maria do Mar... tu és minha! (Beijam-se raivosa mente. À porta, aparece Jesus: não vê, mas pressente: expressão ansiosa, aflita.)

(…)

JOSÉ

(Agarra-a de novo, quase a estrangulá-la.) Nunca, nunca te vi assim, Maria perdida... Não te fica mal o medo, rameira... (Aperta mais o pescoço de Maria do Mar.) Eu sou o Homem! Tu és areia suja, lama para os meus pés... Eu sou e fui sempre o Homem! (Boca na boca, olhos nos olhos: paixão crescente.) E eu gostava de ti, maldita! Não via mais ninguém neste mundo... mais ninguém... Tu eras bonita, a mais bonita de todas!... Tu és linda, Maria do Mar! (Beija-a, furiosamen­te, na boca. Desejo raivoso: posse-luta. No decorrer desta, a candeia cai e apaga-se: obscuridad­e completa. Maria do Mar e José rolam pelo chão. Durante momentos, só ruídos animais, ferozes.)

(Pano.)”

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