O NOVA-IORQUINO ERRANTE
A imaginação, o sonho e a fantasia gerados pela liberdade que a errância e a rebeldia permitem cultivar
Marc Ribot é um músico de muito difícil catalogação, tantos os géneros por onde deixa marca.
Uma marca que ele atribui ao facto de ter aprendido a tocar guitarra como destro apesar de ser canhoto, o que tecnicamente o limita nas posições mais comuns do instrumento. Seja como for, começou como músico de sessão no início da década de 80 – lugar normalmente reservado aos mais capazes – e os primeiros discos em que surge creditado são ‘Soul Alive’ (1984) de Solomon Burke e ‘Rain Dogs’ (1985) de Tom Waits. Mas muitos outros se lhes seguiram, solicitado por nomes tão diversos como Elvis Costello, Diana Krall, Caetano Veloso, McCoy Tyner, Yoko Ono, Mike Patton, Jean-Louis Murat, Marisa Monte, Norah Jones ou T-Bone Burnett, para só referir alguns, sobretudo depois de despontar nas fervilhantes cenas ‘No Wave’ e ‘Downtown’ nova-iorquinas com os Lounge Lizards de John Lurie, com quem gravou ‘Big Heart: Live in Tokyo’ (1986), ‘No Pain for Cakes’ (1987) e ‘Voice of Chunk’ (1989), e com os The Jazz Passengers, com quem gravou ‘Broken Night, Red Light’ (1987) e ‘Deranged and Decomposed’ (1988). Foi nesse contexto que conheceu John Zorn, com quem mantém prolífica colaboração traduzida em mais de 30 álbuns editados desde o inicial ‘Filmworks VII: Cynical Hysteric Hour’ (1989). Em 1990 começa também carreira em nome próprio, com ‘Rootless Cosmopolitans’, a que se seguiram outros 25 discos, ora a solo ora com as quatro bandas que mantém activas: Marc Ribot’s Ceramic Dog, Marc Ribot Trio, Marc Ribot y Los Cubanos Postizos e The Young Philadelphians. ‘Hope’ é o quarto álbum dos Ceramic Dog, trio que partilha com o baixista Shahzad Ismaily e o baterista Ches Smith, músicos ligados à área mais experimental da música improvisada e já com sólida reputação firmada. Em ‘Hope’ a música é uma operação desconstrutiva experimental de padrões da música popular, como o ‘blues’, o ‘reggae’, o ‘rock’, o ‘jazz’, sem nunca lhes destruir a essência e mantendo-lhes uma aparência de canção, servida por textos de intervenção política cheios de humor. Vale a pena conhecer.
“Marc Ribot aprendeu a tocar guitarra como destro apesar de ser canhoto, o que tecnicamente o limita nas posições mais comuns do instrumento” Música e textos de intervenção cheios de humor