Indisciplina do gatilho
Entre militares tem corrido a imagem que resume as duas últimas décadas no Afeganistão. Os talibãs dão uma conferência de imprensa no palácio presidencial de Cabul. Sentados, estão rodeados de seguranças armados. Foto semelhante de há 20 anos mostrava-os com velhinhas armas soviéticas, apontadas para todo o lado e o dedo a envolver o gatilho. Agora, também já têm AR americanas. Cano em direção ao solo. E o dedo (que é o mais importante de toda a espingarda) do gatilho em posição de em frações de segundo descer e premir o metal mortal. Chama-se, numa tradução literal, a disciplina do gatilho.
Ninguém acredita que os talibãs tenham apreendido estas técnicas no YouTube ou TV. Estes homens, que já tinham a vantagem de serem rijos e donos do terreno, evoluíram para soldados tecnicamente dotados. Mas como? Muitos estiveram infiltrados entre os mais de 500 mil militares afegãos treinados pelos Estados Unidos e parceiros, incluindo Portugal. Desses, um quarto desertou, muito provavelmente para os talibãs. Ou seja, são produto dos EUA. Se este fosse o conto dos três porquinhos, os americanos seriam Heitor, o irmão do meio que construiu uma casa sem pregos.n