Correio da Manhã Weekend

Indiscipli­na do gatilho

- SÉRGIO A. VITORINO EDITOR DE PORTUGAL

Entre militares tem corrido a imagem que resume as duas últimas décadas no Afeganistã­o. Os talibãs dão uma conferênci­a de imprensa no palácio presidenci­al de Cabul. Sentados, estão rodeados de seguranças armados. Foto semelhante de há 20 anos mostrava-os com velhinhas armas soviéticas, apontadas para todo o lado e o dedo a envolver o gatilho. Agora, também já têm AR americanas. Cano em direção ao solo. E o dedo (que é o mais importante de toda a espingarda) do gatilho em posição de em frações de segundo descer e premir o metal mortal. Chama-se, numa tradução literal, a disciplina do gatilho.

Ninguém acredita que os talibãs tenham apreendido estas técnicas no YouTube ou TV. Estes homens, que já tinham a vantagem de serem rijos e donos do terreno, evoluíram para soldados tecnicamen­te dotados. Mas como? Muitos estiveram infiltrado­s entre os mais de 500 mil militares afegãos treinados pelos Estados Unidos e parceiros, incluindo Portugal. Desses, um quarto desertou, muito provavelme­nte para os talibãs. Ou seja, são produto dos EUA. Se este fosse o conto dos três porquinhos, os americanos seriam Heitor, o irmão do meio que construiu uma casa sem pregos.n

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