Correio da Manhã Weekend

PRESCRIÇÕE­S: SENSAÇÃO DE IMPUNIDADE

Adesão portuguesa à Europa Comunitári­a permitiu a formação de várias fortunas

- FERNANDO MADAÍL TEXTO

Oprimeiro-ministro afirmou que Portugal “[tem] um historial” de boautiliza­çãodeverba­scomunitár­ias“dequenosde­vemosorgul­har – e não ser motivo de flagelação relativame­nte à utilização dos fundos”. Na abertura da conferênci­a sobre a bazuca financeira – que decorreu, a 21 de junho, na Culturgest, em Lisboa –, António Costa citou um relatório do Tribunal de Contas europeu, de 2019, para acentuar que, “no que diz respeito a Portugal”, “demonstra-se que o nível [de fraudes e de irregulari­dades] é claramente inferior à média da União Europeia”.

Mas, nos primeiros anos de adesão à CEE (hoje, UE), só com o Fundo Social Europeu (FSE), destinado à formação profission­al, multiplica­ram-se os desvios, houve ineficácia na investigaç­ão e impunidade para os maiores prevaricad­ores. No livro ‘Corrupção – Breve História do Crime que Nunca Existiu’ (ed. Objectiva, 2019), Eduardo Dâmaso garante que “muitos milhões daqueles primeiros três anos (1986 a 1989) evaporaram-se e criaram fortunas privadas ou engordaram outras que já existiam”. E, no entender do autor, “também criaram uma vaga imparável de fraude, centrada no FSE, que ainda hoje perdura”.

No artigo de Ana Paula Azevedo sobre a acusação do MP (Ministério Público) contra a Partex, publicado no ‘Expresso’, a 25 de abril de 1997, era sublinhado que, “[a]o fim de quase dez anos de investigaç­ões (…), a conclusão das autoridade­s parece confirmar a ideia generaliza­da na opinião pública: a de que, pelo menos naqueles anos [1986-1989], o FSE foi um meio de enriquecim­ento fácil e ilegítimo, a pretexto de supostas recuperaçõ­es de empresas irrecuperá­veis”.

E António Ribeiro Ferreira, analisando declaraçõe­s sobre o “estado de calamidade” da nossa indústria, entre vários pontos, referia, numa página de ‘O Independen­te’, a 24 de julho de 1992: “Outro aspeto importante e conhecido de todos é a falta de pessoas qualificad­as. Este facto poderá prejudicar a sua capacidade concorrenc­ial no Mercado Único. Isto apesar dos milhões que vieram para Portugal através do Fundo Social Europeu.”

Os processos mais famosos (Amorim, Partex, UGT), que passaram décadas nos corredores judiciais, acabariamp­orprescrev­er.“Asprescriç­ões são o golpe final da impunidade”, considera Eduardo Dâmaso, ao escrever acerca desses “anos negros”. “São a garantia absoluta de que nada acontece a quem praticou um crime, e representa­m, na esmagadora maioria dos casos de crime económico (e não só), o carimbo da desistênci­a e da derrota do Estado.”

Os processos mais famosos (Amorim, Partex, UGT), que passaram décadas nos corredores judiciais, acabariam por prescrever

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Nos primeiros anos de adesão à CEE (hoje UE), só com o Fundo Social Europeu, multiplica­ram-se os desvios, houve ineficácia na investigaç­ão e impunidade para os maiores prevaricad­ores

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