Terror negociado
Houve negociações “secretas” entre a Administração Trump e os talibãs, que se estenderam ao mandato de Biden. É ingénuo pretender que nunca se deve negociar com os terroristas. Em várias situações deve negociar-se (ou fingir que se negoceia) para salvar vidas, numa lógica de proporcionalidade e sem ceder ao consequencialismo. Os fins não justificam todos os meios.
Aceita-se que haja negociações secretas para garantir a segurança e salvaguardar o resultado. Mas não se compreende o secretismo de um acordo já celebrado. O que há a esconder? No caso do Afeganistão, os EUA acordaram a retirada e até estabeleceram prazo. Em contrapartida, que garantias obtiveram de respeito pelos direitos humanos e cessação de atividades terroristas?
Os abomináveis atentados no aeroporto de Cabul prenunciam o pior. Terão sido perpetrados pelo daesh isis ou por uma fação “mais radical” dos talibãs, mas importa não esquecer que são farinha do mesmo saco. Integram-se no mesmo ramo do Islão (sunismo), do qual fazem uma leitura anacrónica, e estão apostados em fundar um Estado sem Direito com expansão universal.
A autoria de um atentado terrorista nem sempre é fácil de descortinar. Por exemplo, quem sequestrou e assassinou Aldo Moro? Quem lançou fogo ao Reichstag? No caso do aeroporto de Cabul, resta saber qual foi o cérebro que tudo orquestrou e manipulou o executor suicida do primeiro atentado, decerto mais governado pelo ódio cego do que por um raciocínio estratégico.
Não estou certo de que os talibãs tenham sido os grandes prejudicados pelos atentados. Na verdade, não estão interessados em que lhes atribuam a autoria e até advertiram da sua iminência (o que deixa uma interrogação sobre a proximidade dos executores). Porém, na perspetiva da retirada dos aliados e do efeito dissuasor da diáspora, tudo indica que foram beneficiados.n
NÃO SE COMPREENDE O SECRETISMO DE UM ACORDO JÁ CELEBRADO