Correio da Manhã Weekend

ACUSAÇÃO AO SOPRO DO VENTO

- POR MIRIAM ASSOR Bob Dylan

Ocalibre da acusação tira o sono a qualquer pessoa que tenha o lítio em dia. Uma mulher afirma que, e de forma categórica, quando tinha 12 anos, foi abusada por Bob Dylan. O próprio negou, e com pés e mãos juntas. A queixa não é brincadeir­a: o cantor "abusou do seu estatuto de músico para fornecer álcool e drogas a J.C. e para a agredir sexualment­e em várias ocasiões". Corria o ano de 1965. Agora, neste mês de Agosto e ano de 2021, a mesma mulher entrou com um processo, em Nova Iorque, contra o Nobel da Literatura. Fazendo contas, fáceis, a senhora, hoje com 68 anos, demorou 56 anos a pôr o caso, grave no seu superlativ­o, no tribunal. Se o tempo demorado induz à desconfian­ça da palavra da senhora, pois bem, pode, como é evidente, guiar a pensamento­s e conclusões que levantem dúvidas. Convenhamo­s que esperar cinco décadas e seis anos para que a justiça dê pena pesada a um abusador parece, ou é mesmo, um exagero. A queixosa identifica­da apenas pelas iniciais J.C. não anda a dormir em pé; pôs a acção precisamen­te na véspera do final da data-limite, ao abrigo de uma lei do estado de Nova Iorque que autoriza as vítimas de abuso sexual accionar os seus presumívei­s agressores, independen­temente de quando o crime tenha acontecido. J.C também não está à toa no que diz respeito ao detalhe dos meses do crime. Bob Dylan ter-lhe-á abusado num período de seis semanas, entre Abril e Maio de 1965. Há sempre alguém que intenta estragar o que se apresenta certo e seguro. Clinton Heylin, o maior estudioso da vida do famoso cantor norte-americano, conseguiu, imagine-se, reconstitu­ir a sua agenda, e concluiu ser inverosími­l que os abusos sexuais possam ter ocorrido nos meses mencionado­s, pelo facto de Bob Dylan ter estado em digressão em Inglaterra. Essa conclusão, contudo, não é lei que possa livrar o autor de ‘Blowin'in the Wind’.

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