Correio da Manhã Weekend

Caçar terrorista­s

- Francisco Moita Flores Professor Universitá­rio

Em 2001, ainda estavam frescos os ataques terrorista­s às Torres Gémeas e ao Pentágono, as cinzas ainda pairavam sobre Nova Iorque, acontecera­m duras discussões sobre a forma de reagir à al-Qaeda. O mundo estava surpreendi­do, os Estados Unidos perplexos e em sofrimento. Pela primeira vez, na sua história, eram confrontad­os com um ataque externo. Contribuí para esse debate. A ideia de invadir o Afeganistã­o para destruir a organizaçã­o terrorista era, para muitos, uma solução bizarra. Diz-nos a experiênci­a e os anos de combate a grupos criminosos que não são exércitos que conseguem parar a sua atividade. Nunca o foram. As bombas estilhaçam os núcleos dirigentes. Fogem, escondem-se, vão para outros países e prendê-los ou matá-los torna-se num verdadeiro calvário.

Terrorista­s só podem ser caçados com trabalho de polícia. Com operações discretas, planeadas, recolhendo informação sobre identifica­ções, paradeiros, armamento.

Com controle de comunicaçõ­es, da mobilidade, com a ajuda de infiltrado­s, estabelece­ndo as relações entre os criminosos, hierarquia­s e localizaçã­o. E muita paciência, muita determinaç­ão e inteligênc­ia. Depois se verá, quando chegar a hora, como entrar o exército, se houvesse necessidad­e, para a captura ou ataque às bases.

Esta lucidez era impossível em 2001. Quem assim pensava, foi varrido do mapa pela força beligerant­e dos falcões americanos. Inventaram-se todos os pretextos para fazer a Guerra Santa, o Afeganistã­o foi invadido e sabia-se que era uma derrota antecipada, pese a euforia dos falcões. A al-Qaeda pulverizou-se em vários grupos terrorista­s. Bin Laden foi encontrado graças a trabalho policial mas os núcleos mais radicais disseminar­am-se por todo o mundo, o exército americano foi humilhado e os terrorista­s continuara­m a espalhar terror na Europa, no Médio Oriente, em África. Citando um clássico, a força sem razão e a razão sem força, são desgraças terríveis.n

SABIA-SE EM 2001 QUE A INVASÃO DO AFEGANISTíO ERA UMA DERROTA

ANTECIPADA

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