Partir o mealheiro
Algumas unidades militares de elite, incluindo portuguesas, têm a bonita tradição de entregar uma moeda personalizada como símbolo de respeito e reconhecimento a pessoas que se destacaram pelo desempenho ou amizade. A oferta é selada num aperto de mão e manda a tradição que quando quem atribui e quem é distinguido se reencontram, ambos tenham a moeda e a mostrem. Quem falhar, paga as cervejas. Em 20 anos de Afeganistão, deduzo que os militares portugueses tenham deixado centenas de moedas (verdadeiras ou figuradas) nas mãos de afegãos que arriscaram a vida para nos apoiar. Nos quartéis, nas patrulhas, a sofrer as mesmas emboscadas, a chorar as baixas. Agora que desmoronou o estado de papel que os decisores políticos dos EUA, NATO e UE deixaram no Afeganistão, é altura de ir ao mealheiro e lembrar todas as moedas que ficaram no ‘cemitério de impérios’. E, para Portugal, são mais do que aquelas que já se conseguiram fazer chegar a Lisboa - num esforço bonito, mas coxo quando vimos as imagens do ficou para trás em Cabul. Não se conseguirá salvar todos. E alguns salvaram-se sozinhos. Há meios coletivos para que esse esforço continue para lá do dia 31. Não os abandonem. Terá um custo inquantificável.n