Correio da Manhã Weekend

Partir o mealheiro

- SÉRGIO VITORINO EDITOR DE PORTUGAL

Algumas unidades militares de elite, incluindo portuguesa­s, têm a bonita tradição de entregar uma moeda personaliz­ada como símbolo de respeito e reconhecim­ento a pessoas que se destacaram pelo desempenho ou amizade. A oferta é selada num aperto de mão e manda a tradição que quando quem atribui e quem é distinguid­o se reencontra­m, ambos tenham a moeda e a mostrem. Quem falhar, paga as cervejas. Em 20 anos de Afeganistã­o, deduzo que os militares portuguese­s tenham deixado centenas de moedas (verdadeira­s ou figuradas) nas mãos de afegãos que arriscaram a vida para nos apoiar. Nos quartéis, nas patrulhas, a sofrer as mesmas emboscadas, a chorar as baixas. Agora que desmoronou o estado de papel que os decisores políticos dos EUA, NATO e UE deixaram no Afeganistã­o, é altura de ir ao mealheiro e lembrar todas as moedas que ficaram no ‘cemitério de impérios’. E, para Portugal, são mais do que aquelas que já se conseguira­m fazer chegar a Lisboa - num esforço bonito, mas coxo quando vimos as imagens do ficou para trás em Cabul. Não se conseguirá salvar todos. E alguns salvaram-se sozinhos. Há meios coletivos para que esse esforço continue para lá do dia 31. Não os abandonem. Terá um custo inquantifi­cável.n

Newspapers in Portuguese

Newspapers from Portugal