Liberdade mais alta
Encontrava-me nos EUA, numa deslocação de 24 horas, para participar no lançamento de uma edição local do ‘Correio da Manhã’ destinada aos emigrantes portugueses. Na manhã do 11 de setembro de 2001, em cima da hora trágica das 8h45, entrei numa papelaria de Newark, cidade vizinha de Nova Iorque, para ver se o CM de Portugal, do dia anterior, chegara no prazo do costume e fui surpreendido com uma pergunta da empregada, sobre o que se imaginava ser um acidente. “Já sabe do avião que embateu nas Twin Towers?”. No momento seguinte, entrou alguém alarmado a anunciar: “Está a dar na TV, ali em frente!”. Saí a correr, atravessei a rua e insatisfeito com a imagem do televisor na montra de eletrodomésticos segui até à esquina mais próxima onde a rua perpendicular oferecia uma visão real dos arranha-céus a soltar fumo negro.
Desde esse momento até cinco dias depois entrar no primeiro avião TAP a voar do JFK para Lisboa, guardo na memória um filme contínuo com noites sem sono e algumas cenas pouco faladas. Destaco os aplausos das pessoas que se juntaram à beira do rio Hudson, em frente às Torres, quando no céu limpo e azul se ouviu o trovão de aviões de guerra, a rapidez com que enchiam de notas os sacos de plástico da solidariedade à volta do Ground Zero, o silêncio das ruas de Nova Iorque sem carros e com o comércio fechado. Redentor é que, 20 anos depois, as torres abatidas tenham dado lugar à Freedom (Liberdade) Tower, com mais andares e pináculo ainda mais alto.n