O CANTO DA IDADE
Quem não chega a velho está morto. A deterioração física de Julio Iglesias, que está vivo, não obstante o problema da coluna e o problema maior chamado quase 80 anos, é a lei natural que acontece no ciclo da vida humana. O homem foi visto, sim, é verdade, faz um ano, em Punta Cana, na República Dominicana, amparado por duas fisioterapeutas. Em vez de estar com roupinha branca de linho e descalço a passear à beira-mar algures nas Caraíbas, o cantor apresentou-se como pôde e conseguiu: com sérias dificuldades em andar e com as mãos a agarrar os punhos das senhoras. Arredado dos palcos há três anos, não precisou de fugir com o cóccix à seringa à idade e postou no Instagram bofetadas: “É verdade que me doem as costas como sempre me doeram, e que tenho menos forças do que tinha antes. Vou fazer 78 anos e nem sequer ao maior dos desportistas se pode pedir que aos 78 anos faça desporto como fazia aos 20". Tantas vezes ouviu dizer que está mal, que está muito mal, acabado e com os pés a caminho da cova, que teve de tomar a atitude. Evidente. Iglesias, Julio Iglesias, viu a morte aos 19 anos num acidente grave de viação que acabou com a carreira de guarda-redes no Real Madrid. Passou das defesas para a canção. Durante décadas esteve em boa forma, já não está e não está maluco: “Estou como tenho de estar com a idade que tenho." Eis a resposta adequada. É difícil e igualmente ridículo que uma criatura tenha e mantenha juventude física no final dos 70 anos. Pode fazer jogging de Lisboa a Paris. Pode. O tempo passa por todos, não faz excepções. Aqueles que ficam admirados com as consequências dos anos no corpo só lhes faltam estarem atrelados a uma carroça para serem oficialmente burros. Julgam possível que alguém pode continuar nos trinques a dois anos de fazer 80 anos e acreditam que haja um milagre específico para cantores espanhóis românticos que cure uma coluna doente.