UM NOVO NOTURNO

Recomendado por um antigo prazer, entrou um novo na agenda. Não é meu hábito alargar o serviço, e a fronteira fechada não se deve apenas devido à maldita pandemia. Gosto pouco de receber muita gente. Seleciono bastante quem entra e quem fica de fora. Tive de mexer na folha e, com nenhuma pena, dei guia de marcha a um prazer que, na verdade, mentia imenso no que diz respeito à qualidade do abono. Não me arrependo da troca. Bem sei, nas primeiras prestações todos querem ser o Tarzan. Comem a relva à volta da piscina, se for caso disso. O novíssimo, com idade além dos 40, toca como se fosse maestro. Percebe de vários instrumentos, sopro, teclas, ele lá sabe, e bem, como dar a corda. O facto de aqui aparecer de manhã não lhe tira a pujança. Há prazeres que pela fresquinha ficam secos. Neste caso, não. É um rio, se não tomarmos cuidado. Sem pequeno-almoço, a fruta passeia ora pela boca, ora por onde tem de ser. Nunca segue o mesmo destino. Quando penso que vai para um lugar, há sempre um dedo que faz o desvio para o lado inesperado. Provavelmente por ser um homem ligado à filosofia oriental, o meu corpo parece que perde massa muscular; fica leve. Pode-se fazer dele, do meu corpinho, o que se quiser. É uma sensação incrível essa de nos sentirmos plasticina nas mãos de um prazer novo e experiente, que vai indo cada vez mais fundo com alta perícia. Sem rodeios, vos digo, depois de uma sessão deste calibre que se multiplica e demora além do tempo previsto, preciso de um tempo para me recompor. Ah, pois. O seguinte é a seguir ao almoço tardio. Ninguém é de ferro e eu também não. São muitas cambalhotas sem ver o ar e de múltiplas maneiras. Todas boas e vigorosas, sendo que a predileta é aquela que me impede de ver a porta do quarto e o rosto do engenhoso. Mas para que precisamos de ver maçanetas e sorrisos?

SÃO MUITAS CAMBALHOTAS SEM VER O AR E DE MÚLTIPLAS MANEIRAS. TODAS BOAS E VIGOROSAS