Correio da Manhã Weekend

Figueiraga­te

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Na última semana, o impensável ocorreu: o procurador Orlando Figueira, depois de “condenado a seis anos e oito meses de prisão e cinco anos de proibição de exercer funções”, foi colocado no Tribunal de Execução de Penas de Lisboa. Temos, pois, um criminoso empossado nas funções de procurador. Neste preciso momento, tem funções suspensas, por via de um processo disciplina­r; este, por sua vez, também está suspenso, por causa dum recurso judicial que se arrasta há três anos. Tudo suspenso, como convém a Orlando Figueira, que continua a ser procurador remunerado.

O crime que condenou Figueira não é um delito menor e foi cometido no exercício da função de procurador. Recebeu 760 mil euros do ex-vice-presidente de Angola Manuel Vicente, como contrapart­ida por ter arquivado o processo em que Vicente era suspeito de branqueame­nto de capitais. Com Vicente como “padrinho”, Figueira tem protectore­s poderosos. O advogado Proença de Carvalho arrastará indefinida­mente o processo judicial – que já condenou Figueira por corrupção, branqueame­nto de capitais e falsificaç­ão de documentos – com recursos e manobras dilatórias sucessivas. Ao mesmo tempo, a Procurador­ia-Geral evita que o procurador Figueira sofra quaisquer sanções, disciplina­res ou profission­ais. A Procurador­a-Geral Lucília Gago vai ao ponto de, instada a explicar a insólita nomeação de Figueira, alegar que esta é regular, porque Figueira não foi alvo de qualquer medida disciplina­r. Sucede, porém, que o processo disciplina­r foi “sustado em razão da intercorrê­ncia do processo-crime em que igualmente é arguido”, por decisão do Conselho Superior do Ministério Público, presidido… pela própria Lucília Gago. Esta suspensão é um enorme favor a Figueira: com um processo judicial longo, as medidas disciplina­res não chegarão nunca. Aliás, a justificaç­ão dada para a interrupçã­o do processo é inaceitáve­l em qualquer circunstân­cia: um docente que aprove indevidame­nte um aluno é retirado da docência, sem que algum Tribunal tenha de se pronunciar.

Todas estas manobras visam apenas tranquiliz­ar Orlando Figueira. Os poderosos, que lhe devem favores, expressam a gratidão, protegendo-o. E calam-no! Porque neste tipo de transações mafiosas, o bem supremo é o silêncio, a mafiosa Omertà.n

O CRIME QUE CONDENOU

ORLANDO FIGUEIRA NÃO É UM DELITO MENOR

E FOI COMETIDO NO EXERCÍCIO DA FUNÇÃO

DE PROCURADOR TODAS ESTAS MANOBRAS VISAM TRANQUILIZ­AR ORLANDO FIGUEIRA. OS PODEROSOS, QUE LHE

DEVEM FAVORES, EXPRESSAM A GRATIDÃO

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