“COSTUMO DIZER QUE SOU UM TREINADOR QUE ME PAGO A MIM PRÓPRIO”
PROJETO r Treinador abraçou projeto no Avanca, equipa que milita no Campeonato Elite da AF de Aveiro, que visava trazer jovens jogadores congoleses para Portugal e valorizá-los, mas o SEF não deu autorização IRREVERENTE r Com 24 anos já tinha o nível máxi
Correio Sport - Como surgiu este projeto ligado ao Avanca, um clube do campeonato Elite da AF Aveiro? Luís Norton de Matos - Quis trazer um projeto pioneiro, com um grupo de investidores, para Portugal que implica o protocolo da vinda de jovens jogadores congoleses (estavam previstos oito) com o treinador anexado. Em vez de trazer uma equipa para a Europa para se mostrar, os jogadores são integrados numa equipa como a do Avanca, com boas condições de trabalho. É um projeto em que podemos ter a gestão com as vertentes financeira e desportiva. Encontrei aqui um presidente, Paulo Dias, com as mesmas ideias e com grande ligação ao futebol de formação. É um protocolo para três anos.
–No entanto, o projeto sofreu um revés?
– Em Portugal, o meu problema é ser português. Sei que são trazidos jogadores para Portugal e que depois são abandonados. Não tenho nada a ver com esses circuitos, não posso estar a pagar por aquilo que os outros fizeram. Os jogadores vinham com contrato de trabalho e foi negada a autorização para a sua vinda. –O que está em causa?
– Há um organismo em Portugal, o SEF, que está extinto mas que se encontra em funções até ao final do ano. Nunca me responderam aos emails, nunca falaram comigo. Como cidadão português, fui completamente ignorado. Não quiseram saber o que era este projeto, foi mais fácil dizer que pensavam que não havia condições económicas. Estou de acordo que hajam mecanismos para evitar que haja jogadores que sejam deixados à fome, mas comigo isso é impossível de acontecer. Houve uma grande falta de profissionalismo e uma falta de respeito por mim e pelo projeto.
– O que vai fazer?
– Há uma alternativa, podemos dar a volta à situação e dar continuidade ao projeto. No entanto, estou dependente da vontade dos investidores. É uma hipótese, mas porque não formar uma Sociedade Anónima Desportiva (SAD). Acabam-se as dúvidas quanto à viabilidade económica, já se trata de uma figura jurídica e financeira que permite que não haja um problema destes. Vou fazer tudo para demonstrar que o projeto que pretendo trazer não é utópico, não pretendo desistir e tenho um grupo por quem já me afeiçoei. Foi sempre essa a minha grande característica de vida em relação aos jogadores e aos projetos.
– Tem uma grande ligação aos jovens jogadores?
– Em todas as minhas passagens por clubes da Liga, Segunda Liga e outros patamares, sempre promovi jovens com menos de 20 anos, as equipas tiveram esses atletas
PERFIL
a jogarem. Nos dois jogos que o Avanca disputou (Estarreja e LAAC) a média dos jogadores foi de 19,2 anos. Estamos a falar de um campeonato de seniores, com equipas como o Beira-Mar, Oliveira do Bairro e o Águeda, e todas as competições são difíceis à sua dimensão.
–De onde vem essa vocação? – Há algo que sempre me guiou fora do percurso de futebol e que é diferente da maioria dos treinadores. Aos 24 anos, já tinha o nível máximo de treino porque me formei em Educação Física com a especialidade de futebol. Sempre me interessei pelo futebol, pelo jogo. Iniciei a carreia no Atlético, passei depois no Barreirense, Sp. Espinho... equipas históricas do futebol português, mas passei sempre em contextos financeiros difíceis. Ou seja, fui sempre um treinador em situações de dificuldades. Ou seja, em equipas sem dinheiro em que o recurso é jogar com os jovens e com aqueles que ninguém quer treinar. Sempre aceitei esses desafios com naturalidade.
–Até quando chegou à Liga? – Quando cheguei ao Vitória de Setúbal, na Liga, consegui algo que é muito difícil de se repetir: à 13ª jornada, a equipa já tinha garantido a manutenção, com 29 pontos, e com a defesa menos batida da Europa. Assim foi em outras equipas, condenadas a descer, em que conseguimos alguns feitos. Foram pequenos sucessos que me disseram muito e que me mostravam que estava no caminho certo, sempre com jogadores jovens e desconhecidos.
– O que o levou a sair do clube sadino?
– Saí do Vitória de Setúbal porque defendi um grupo de jogadores que estava sem receber há quatro meses, onde havia despejos ou ameaças de despejos. Sou pela justiça e não gosto de injustiças. As pessoas diziam, este tipo é um bocado revolucionário, está sempre do lado dos jogadores mas não... estou é ao lado da justiça. A minha carreira poderia ter sido outra, é tudo uma questão de ocasião mas escolhi um caminho diferente. Quero estar onde sou feliz e isso acontece quando estou no treino, quando vejo os jogadores a evoluir, ávidos de aprender e que me respeitem enquanto pessoa e treinador. Há coisas muito mais